Dentro de 10 dias, uma audiência pública vai marcar a largada da tentativa de tirar do papel mais um projeto bilionário no Rio Grande do Sul. Será apresentada a térmica Nova Seival, entre Hulha Negra e Candiota, com investimento estimado em US$ 1,3 bilhão (quase R$ 7 bilhões) e capacidade para gerar 600 megawatts (MW), o suficiente para abastecer quase todas as casas da Grande Porto Alegre, sem contar indústria e comércio.
É uma espécie de "herança" da MPX de Eike Batista, que havia incluído a usina no seu ambicioso planejamento, em parceria com a dona da mina local, a Copelmi.
Agora, a Copelmi assumiu a iniciativa de construir a termelétrica na própria área da mina, e se propõe a enfrentar terreno minado: o da rejeição ambiental a projetos que usam carvão como fonte de geração de eletricidade. O Rio Grande do Sul enfrenta um dilema: tem duas usinas a gás natural, com baixa emissão, que não funcionam, e abundantes reservas de carvão que não encontram aplicação adequada.
Segundo Levi Souto Júnior, diretor da Nova Seival, a proposta é construir a primeira unidade abastecida com o mineral com "queima supercrítica" no Brasil. Conforme o executivo, a eficiência da planta será acima de 40%, quando as que usam a tecnologia subcrítica têm em torno de 35%.
— Estamos trazendo uma tecnologia de 2020, visitamos plantas na China e no Japão que usam carvão com alto teor de cinzas, como o gaúcho. Isso significa menor consumo do mineral e de água e menor emissão de gás carbônico, até 15% a menos do que a usina mais moderna do Estado, a Pampa Sul — afirma Souto.
Ainda conforme o diretor, como a térmica será erguida dentro da mina, em área já explorada, não vai exigir transporte do minério por estrada. O carvão sai da mina, é beneficiado na planta e vai direto para a caldeira. Souto pondera:
— Sim, terá emissão de CO2. Mas com o desligamento das térmicas de Charqueadas e de São Jerônimo, o Estado perdeu 538 MW em geração. Trocaríamos equipamentos antigos, com maior emissão, por outro moderno, mais eficiente. É uma energia barata, que pode ser acionada em crises hídricas, como o atual, sem levar a bandeira amarela ou vermelha. A Nova Seival terá CVU (Custo Unitário Variável, adotado pelo órgão que define que usinas devem operar para permitir abastecimento ao menor valor possível) de R$ 90, enquanto a bandeira amarela tem CVU acima de R$ 200, e a vermelha, de R$ 400 a R$ 500.
A audiência pública marcada para o dia 20 vai discutir o relatório ambiental (EIA/Rima) da usina, passo decisivo para concessão da licença prévia (LP), que terá de começar do zero depois que a MPX Sul perdeu a anterior por perda de prazos. Essa obtenção, por sua vez, é essencial para permitir que o projeto dispute um leilão de energia. Nesses eventos, geradores oferecem projetos disputados por distribuidoras, como a CEEE-D. Os que oferecem melhores condições obtêm contratos de venda que servem de garantia para financiar a construção das usinas.
Conforme Souto, apesar de o governo ter marcado um leilão de geração para 30 de setembro, não é certo que a Nova Seival participe, caso obtenha licenciamento a tempo. O prazo previsto para entrega da energia negociada é de cinco anos — na verdade, quatro anos e três meses, pondera o executivo —, considerado apertado pela empresa, que estima o cronograma ideal em seis anos ou ao menos cinco completos.