Muitas pessoas ainda não entenderam a gravidade do pé na porta na Petrobras, mas a renúncia de quatro dos 11 conselheiros da estatal ajuda a dimensionar o tamanho da encrenca que o presidente Jair Bolsonaro se meteu.
Em conversas com interlocutores, alguns desses profissionais deixam claro que a decisão conjunta foi baseada no risco de permanecer nos cargos.
Como a esses quatro se soma a saída do atual presidente, Roberto Castello Branco, será preciso renovar quase metade do colegiado. Apesar de o nome "conselheiro" sugerir certo descompromisso, esses profissionais não são palpiteiros ocasionais. Participam ativamente na definição de rumos da companhia e podem ser responsabilizados legalmente por seus atos como pessoa física. Ou seja, se aprovarem estratégia que cause perda à empresa ou à sociedade, "respondem no CPF", como se costuma dizer.
A Petrobras informou a decisão na noite de terça-feira (2) e detalhou os motivos pelos quais quatro dos 10 que o Ministério de Minas e Energia gostaria de reconduzir ao cargo. João Cox Neto e Nivio Ziviani mencionaram "razões pessoais". Paulo Cesar de Souza e Silva fez questão de observar que seu mandato seria "interrompido inesperadamente" e destacou o "excelente trabalho desenvolvido pela diretoria executiva e funcionários da Petrobras". O mais explícito foi Omar Carneiro da Cunha: "a mudança proposta pelo acionista majoritário, embora amparado nos preceitos societários, não se coaduna com as melhores práticas de gestão, nas quais procuro guiar minha trajetória empresarial".
Nesta quarta-feira (3), as ações da Petrobras já caíram mais de 5%, mas no final da tarde moderaram as perdas para a faixa de 3%, depois que o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), afirmou que as despesas com apoio social, seja auxílio emergencial ou bolsa família, não ficarão fora do teto.
O pé na porta dado por Jair Bolsonaro embute várias encrencas além dos de mercado que já se transformaram em passivos. A primeira será recompor um conselho com credibilidade mínima. A segunda, dar explicações sobre como a troca de Castello Branco foi sugerida em várias comunicações extra0ficiais, contrariando regras da Lei das Sociedades Anônimas (SA) e da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que regula o mercado de ações. Um dos efeitos da demissão a conta-gotas foram operações na bolsa que podem ter usado informação privilegiada para lucrar com as perdas para a estatal.