Antes do desabamento de 20% no dia 23, as ações da Petrobras caíram na sexta-feira anterior (19). Na véspera, uma operação que apostava na desvalorização dos papéis da empresa rendeu grandes lucros a um ou a um grupo de especuladores.
A informação foi publicada pela jornalista Malu Gaspar, de O Globo, antecipando que o tema será investigado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a xerife do mercado.
A coluna consultou a CVM para confirmar se já existe um processo aberto e recebeu a resposta-padrão do órgão, que não é muito conclusiva:
"A CVM acompanha e analisa informações e movimentações envolvendo companhias abertas, tomando as medidas cabíveis, sempre que necessário. A autarquia não comenta casos específicos."
No entanto, a simples exposição do caso deve suscitar o exame do supervisor, se forem mantidos os procedimentos usuais nestes casos. É hábito da CVM pedir informações, no mínimo, quando esse tipo de informação vem a público. No site do órgão, já existem três processos de análise e supervisão, além de duas reclamações, abertos a partir de 20 de fevereiro, o sábado que se seguiu à troca da presidência.
Conforme informações de pessoas familiarizadas com esse tipo de caso, nenhum envolve informação privilegiada porque não envolve a superintendência de mercado, responsável pela apuração de informação privilegiada. Também existe a possibilidade de o processo ser aberto de forma reservada, o que é pouco frequente, mas não impossível.
Os sinais de que isso pode ter ocorrido são fortes: houve compra volumosa de opções de ações da Petrobras 20 minutos depois do final de uma reunião no dia 18 entre o presidente Jair Bolsonaro e seis ministros (Minas e Energia, Infraestrutura, Economia, Casa Civil, Secretaria de Governo e Gabinete de Segurança Institucional), sobre a alta dos combustíveis. Pouco tempo depois, em sua live semanal, Bolsonaro afirmou que haveria "consequência" para o presidente da Petrobras.
A compra de opção permite ao especulador ter garantia de que poderá vender a ação a preço determinado no vencimento. Na hora da transação, os papéis da Petrobras valiam R$ 29,27, mas a negociação mirou valor de R$ 26,50 na liquidação. Ou seja, quem fez o movimento contava com uma baixa significativa. No dia seguinte, os papéis caíram 7,92%.