Foi com uma explicação sobre a mudança de posição em relação à campanha eleitoral de 2018 que o governador Eduardo Leite anunciou a privatização da Corsan nesta quinta-feira (18). Ele mesmo lembrou que, na campanha, havia dito que não venderia o controle.
Na longa lista de motivos que apresentou para a quebra de palavra foi a disposição de não deixar a Corsan se transformar na CEEE, com baixa capacidade de investimento e ineficiência provocada também pela burocracia.
O principal argumento do governador foi a aprovação do marco regulatório do saneamento, que mudou as circunstâncias da atividade. A desestatização ainda depende de aprovação da Assembleia, mas a ideia é fazer, antes da venda do controle, a abertura de capital (IPO, na sigla em inglês) que já estava prevista, com valor estimado em R$ 1 bilhão, em outubro. Parte desses recursos serão usados para reforçar o capital da companhia, para aumentar o interesse de futuros compradores da companhia, disse Leite.
— O Estado vai deixar se ser controlador, mas ficará como acionista relevante, com cerca de 30% das ações, mas a maior parte estará nas mãos da iniciativa privada. Temos de pensar na participação privada para melhorar a eficiência da companhia. Hoje, a empresa enfrenta ineficiência e baixa capacidade de investimento, além da forte burocracia — afirmou o governador.
Leite afirmou que a empresa tem qualidade de serviço prestado abaixo da média nacional e, além disso, nas regiões em que a Corsan atua, média está abaixo da estadual. Segundo Leite, se continuasse pública, a companhia não conseguiria fazer os investimentos necessários até 2033, que somam R$ 10 bilhões. Em 2020, a estatal fez o maior aporte de sua história, e chegou a R$ 417 milhões. A partir do próximo ano, precisaria triplicar esse valor e manter esse nível por uma década.
No lado do passivo, a comparação com a CEEE não é gratuita: conforme Leite, a empresa tem gasto anual em torno de R$ 200 milhões com dívidas trabalhistas.
O discurso do governador sobre as metas é genuíno: o marco do saneamento básico prevê a possibilidade de rompimento de contrato por descumprimento de metas. Também obriga as empresas do setor a investir de forma acelerada para suprir a gigantesca necessidade de fazer chegar esse serviço tão básico de saúde aos cidadãos.
Quando assumiu, Leite trouxe um executivo com experiência no mercado de capitais para comandar a empresa e prepará-la para a abertura de capital. Cauteloso, Roberto Barbuti já chegou dizendo que precisava de tempo para preparar a estatal com objetivo de obter o melhor resultado possível na hora de vender ações, na época ainda com manutenção do controle estatal.
Em dezembro de 2020, a Corsan tomou outra providência para preparar a oferta de papéis: contratou uma agência de análise de risco, a Fitch, para avaliar seu crédito. O resultado foi alentador: a nota foi AA-, a quarta mais alta na pirâmide que tem 20 degraus. O rating é uma forma de mostrar ao mercado a solidez de empresas, assim como a de países. Pelos critérios da agência, significa "alta qualidade (de crédito), baixo risco de default (calote)".