Se ainda havia alguma dúvida sobre a situação da CEEE-D, o presidente do grupo, Marco Soligo, esclareceu nesta quarta-feira (19). Ao comentar o prejuízo de R$ 1,01 bilhão no primeiro semestre e mencionar uma nova ação sindical de R$ 32 milhões contra a empresa, disse com todas as letras: a distribuidora está "quebrada".
– A companhia está insolvente desde 2016. Só sobrevive pelo não recolhimento de ICMS – detalhou.
A empresa deve ser privatizada até o final do ano, sob risco de perder a concessão. Com o resultado do semestre, a CEEE-D acumula patrimônio líquido negativo de R$ 4,88 bilhões. Significa que, se todos seus bens tangíveis fossem vendidos, ainda ficaria devendo esse valor. O prejuízo de janeiro a junho foi duas vezes (118,58%) maior que o de igual período de 2019.
Apesar do aumento drástico, Soligo afirmou que não há "preparação" para a privatização, no sentido de limpar esqueletos do armário. Mas admitiu que vem "corrigindo imperfeições" nos balanços, entre as quais um redutor das provisões para contenciosos, como ações trabalhistas. Um dos impactos mais fortes foi cambial, de R$ 475,8 milhões.
A compra da energia da binacional Itaipu, obrigatória a todas as distribuidoras brasileiras, é feita em dólar. Quando a moeda americana sobe, aumenta esse custo. Além disso, conforme Soligo, 99% da dívida da CEEE-D é dolarizada. Isso aumentou de R$ 453 milhões nas despesas com financiamentos internacionais.
– A companhia, que não tem receita em dólar, sofre integralmente o efeito do câmbio. Pode parecer bastante absurdo, mas é o que acontece – disse Soligo.
No segundo trimestre, houve aumento da inadimplência, de 2,5% no mesmo período de 2019 para 3,9%, de contas vencidas há mais de 90 dias.
Segundo o presidente, o prejuízo semestral seria de R$ 350 milhões com a exclusão da variação cambial e de juro e multas da dívida de R$ 3,2 bilhões com ICMS, dos quais a empresa "não consegue escapar porque está insolvente". Na outra divisão do grupo, a empresa de geração e transmissão, houve lucro de R$ 87 milhões no resultado semestral, em boa parte graças a uma revisão de critérios da agência reguladora do setor, que representou uma remuneração maior para ativos.
Até o final do ano, confirmou Soligo, será completada a divisão das áreas de geração e transmissão, para privatização separada.