Para a CEEE-D precisar de uma injeção de capital de R$ 3,36 bilhões para ir a leilão por preço mínimo de R$ 50 mil, foi preciso que muitas coisas erradas ocorressem e por muito tempo. Um dos componentes mais conhecidos foi a indústria de ações trabalhistas, que corroeu a estatal durante anos.
A cada gestão, novas medidas eram tomadas para estancar a sangria. Às vésperas do leilão, embora o número de ações tenha diminuído, o desembolso da CEEE-D deu um salto de 143,3%, mesmo considerando os 12 meses de 2019 com o período de janeiro a novembro deste ano (veja o histórico abaixo).
Aos investidores, o presidente da companhia, Marco Soligo, explicou que a atual gestão "praticamente desmontou" o departamento jurídico da empresa, como fizeram administrações anteriores.
– Tenho esperança de que um dia o jurídico contribua para a empresa – afirmou, diante de investidores.
Mesmo assim, o desembolso de R$ 49,2 milhões em todo 2019 saltou para R$ 124,5 milhões em 11 meses deste ano porque foram abertas ações contra um dispositivo do acordo coletivo que previa reajuste real de 3% ao ano, independentemente da situação financeira da empresa. Só nos últimos sete anos, só a empresa de distribuição acumula despesa de R$ 384,7 milhões com pagamento de ações trabalhistas.
Conforme Soligo, uma gestão anterior mudou esse percentual para 1%, mas os funcionários acionaram a Justiça e obtiveram ganho de causa, voltando a elevar as despesas da empresa com esse problema. Na atual gestão, relatou na abertura do road show (período destinado a tirar dúvidas de potenciais interessados na compra da empresa) da CEEE-D, esse item foi retirado do acordo coletivo. Pelo relato do presidente, no mais recente acordo coletivo, a retirada de cláusulas que ele considera "abusivas" proporcionou à empresa uma economia de R$ 42 milhões.
Outra providência tomada pela administração para encaminhar a CEEE-D para privatização, com objetivo de deixar os números transparentes aos eventuais interessados, foi a retirada de um redutor de 20% relativo a fases iniciais de processo nas provisões que a empresa é obrigada a fazer para quitar essas pendências. Conforme o presidente afirmou no road show, não havia norma administrativa ou contábil que justificasse a aplicação desse redutor. Com isso, as provisões subiram de R$ 313 milhões em 2019 para R$ 354 milhões no registro mais recente, de outubro.
O histórico recente dos pagamentos da CEEE-D com ações trabalhistas
2014 - R$ 42,77 milhões
2015 - R$ 41,77 milhões
2016 - R$43,83 milhões
2017 - R$ 53,59 milhões
2018 - R$ 29,04 milhões
2019 - R$ 49,16 milhões
2020* - R$ 124,55 milhões
(*) de janeiro a novembro
VEJA O EDITAL DE PRIVATIZAÇÃO