Foi um susto generalizado a queda de 6,1% nas vendas no varejo em dezembro de 2020, informada nesta quarta-feira (10) pelo IBGE. Representou o segundo recuo mensal consecutivo e o maior tombo em dezembro de toda a série histórica, iniciada em 2000.
Aliado às projeções de retração no PIB do primeiro trimestre de 2021, é um dado que vai elevar a pressão pela volta do auxílio emergencial, apesar das divergências entre o Planalto e o Congresso.
O dado do último mês de 2020 provocou avisos de revisão das projeções do PIB do ano passado, como o do economista-chefe da corretora Necton, André Perfeito:
– Não tem como dourar a pílula: as vendas no varejo em dezembro foram um total desastre. A queda foi de 6,1% enquanto a projeção mediana era de 0,8%. Esse resultado confirma a hipótese da recuperação em raiz quadrada que tenho falado, ou seja, depois da volta em V, a retirada de incentivos estagnou a economia.
Por "retirada de incentivos", entenda-se o fim do auxílio emergencial. Perfeito chama atenção de que o juro real negativo (taxa nominal de 2% para inflação acima de 4%) mantido pelo Banco Central não dá estímulo suficiente para a economia:
– De nada adianta ter o juro no lugar certo e a economia, no lugar errado.
O próprio IBGE atribuiu o tombo ao fim do auxílio, embora os últimos pagamentos regulares tenham sido feitos no início deste mês. O gerente da pesquisa, Cristiano Santos, lembrou que as vendas nos supermercados representam quase a metade do resultado total do indicador. Como a inflação dos alimentos reduziu as compras, puxou o indicador para baixo.
No mercado financeiro, os sinais de que a renovação do benefício deve mesmo ficar fora do teto dos gastos e descumprir a regra de ouro, que impede o governo de se endividar para pagar despesas correntes provoca instabilidade e projeções de maiores altas na inflação, como advertiu o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, na terça-feira (9).
O impasse é especialmente delicado para o BC, que deve começar a elevar a taxa básica para frear a inflação, mas ainda precisa ajudar na recuperação ensaiada no terceiro trimestre de 2020, mas que minguou na virada de ano. A decisão sobre o auxílio emergencial terá de ser tomada sem improviso e pisando em ovos, sob pena de perder a mão.
E depois de esperar pela eleição municipal e pela escolha dos presidentes da Câmara e do Senado, agora o governo Bolsonaro indica que está esperando o Carnaval passar para bater o martelo. Pelo barulho provocado no debate sobre sucessão presidencial pelo PSDB, a janela que se previa até setembro para aprovar reformas já começou a fechar.