Estava na reta final a privatização da Refinaria Alberto Pasqualini (Refap), de Canoas. Até que o presidente Jair Bolsonaro anunciar um novo presidente para a Petrobras e mergulhar o Brasil em um dia de pânico no mercado financeiro.
Nesta segunda-feira (22) em que a Petrobras perde R$ 100 bilhões em valor de mercado, sem contar fortes desvalorizações de Banco do Brasil (-10,7%) e Eletrobras (-3,4%), uma ação de empresa privada também despenca e chama atenção para desdobramentos da crise.
Trata-se dos papéis do grupo Ultra, dono da rede de postos Ipiranga e considerado o virtual comprador da Refap. As ações ordinárias (com direito a voto, portanto definem o controle da companhia) do Ultra caem 8,3% na metade da tarde.
Parte da desvalorização vem do fato de que um controle de preços do tipo que Bolsonaro quer provocaria perda de resultado para o principal negócio do Ultra, a distribuição de combustíveis. Mas chama atenção dos analistas o fato de a queda ser bastante superior à de outra companhia que atua no mesmo segmento, a Cosan.
A empresa era apontada como possível candidata à compra de outra refinaria, a Repar, no Paraná, mas se fez oferta pela unidade de Araucária, foi considerada baixa demais pela Petrobras, que interrompeu o processo e anunciou que começaria tudo de novo. As ações da Cosan caem "só" 6%, considerando que Petrobras desaba 20%.
Analistas do setor e ex-integrantes da equipe econômica avaliam que, ao meter o pé na porta da Petrobras, Bolsonaro inviabilizou a venda das refinarias, um dos poucos processo de desestatização que avançavam em seu governo. Ocorre que, com controle de preços nas refinarias, até a venda já fechada da unidade da Bahia para o fundo soberano Mubadala, de Abu Dhabi, corre risco. Quem vai querer comprar uma empresa se quem vai definir o preço é Bolsonaro?