A Petrobras perdeu cerca de R$ 100 bilhões em valor de mercado, ameaças de novas intervenções do presidente Jair Bolsonaro arrastaram ações de outras estatais, investidores advertiram sobre riscos para a economia brasileira e esta terça-feira (23) é um dia crucial para o terremoto provocado no Planalto.
O conselho de administração da Petrobras está reunido para se posicionar sobre o pedido de convocação de assembleia-geral extraordinária (AGE) que chancelaria a troca do atual presidente, Roberto Castello Branco, pelo general Joaquim Silva e Luna, atual presidente de Itaipu.
Com o conselho reunido, as ações da Petrobras ensaiam um previsível caminho de reação, subindo quase 6% no final da manhã. Significa que estaria recuperando R$ 24 bilhões dos R$ 100 bilhões perdidos na véspera. Mas o valor real da estatal será definido, entre outras decisões, pela deliberação de oito integrantes de um colegiado bem avaliado pelo mercado.
A renúncia coletiva está descartada. Marcelo Mesquita, um dos conselheiros que mais se manifestaram diante do pé na porta presidencial, disse que permanece no cargo, assim como outro representante dos minoritários e a conselheira eleita pelos empregados, Rosângela Buzanelli.
Resta apenas um integrante independente (não indicado pelo governo), Leonardo Antonelli, que já afirmou ver a política de preços da Petrobras "blindada" a ingerências governamentais pelo seu estatuto social e pela Lei das Estatais, como argumenta Mansueto de Almeida, economista-chefe do BTG Pactual e ex-secretário do Tesouro.
Então, o conselho deve aprovar a convocação da AGE, mas terá de esboçar alguma reação para preservar a reputação individual de cada um e sinalizar que governança corporativa tem algum valor no Brasil de 2020. Se nada fizer, vai simplesmente carimbar a intervenção mais abrupta na história da Petrobras.