Em uma das várias reuniões realizada no domingo diante da perspectiva de um dia de pânico no mercado financeiro, o economista-chefe do BTG Pactual e ex-integrante da equipe de Paulo Guedes Mansueto de Almeida tentou tranquilizar investidores afirmando que ainda era cedo para afirmar que o governo Bolsonaro será mais intervencionista daqui para a frente.
E seguiu na toada "segura manada" ao afirmar que a Lei das Estatais aprovada em 2016, no governo Temer, vai dificultar o ingerência no molde adotado pelos governos do PT.
Conforme pessoas que participaram da reunião, Mansueto admitiu "apreensão" com a forma com que foi conduzida a mudança na Petrobras, mas ponderou que, depois da Lei das Estatais (veja o texto aqui) criada em 2016, com sua ajuda, uma ingerência abrupta ficou mais difícil. A regra prevê, por exemplo, que eventuais prejuízos provocados por decisões de governo terão de ser ressarcidos pelo Tesouro Nacional. O executivo sabe bem disso, inclusive, por ter sido secretário do Tesouro no governo Bolsonaro.
Mansueto afirmou que, graças à Lei das Estatais, agora existem "mais filtros" para amortecer intervenções. Mas admitiu preocupação com o sinal de que o pé na porta presidencial não vai se limitar à Petrobras, porque Bolsonaro falou em "meter o dedo na energia elétrica". Lembrou que o segmento ainda se recupera de perdas provocadas em 2012 por mudanças determinadas pela então presidente Dilma Rousseff.
– Espero que não faça nada que interrompa a recuperação do setor com novos controles de preço. Qualquer coisa que faça no setor elétrico e fuja do script vai causar problemas desnecessários – afirmou Mansueto, conforme relatos.
Conforme o economista, se de fato houver mudança na Petrobras e em outras estatais, como chegou a sugerir o presidente no sábado, será um distanciamento da agenda liberal e sinaliza mudança na composição de forças do governo.
Nesta segunda-feira (22), as ações da Petrobras caem cerca de 20%, tanto as ordinárias (que dão direto a definir o futuro da empresa), quanto as preferenciais (que têm preferência para receber os dividendos, ou seja, uma parte dos ganhos da empresa). Pelo jeito, o discurso tranquilizador de Mansueto não deu resultado.
A segunda maior queda na bolsa, acima de 10%, afeta o Banco do Brasil, dado o temor de demissão de seu presidente alinhado ao mercado, André Brandão, um dos "tubarões" que estariam na mira de Bolsonaro. Se houvesse um manual do que não fazer no mercado financeiro, o presidente teria gabaritado durante o final da semana.