As ações da Petrobras derretem desde o início da manhã desta segunda-feira. No pré-mercado da bolsa de Nova York, nos Estados Unidos, os papéis da estatal já caíram mais de 15%. O Ibovespa Futuro abriu em queda, continuando o recuo na abertura do pregão. No final da manhã, o índice da bolsa de valores de São Paulo, B3, passou a despencar mais de 5% para 111 mil pontos, puxado pela queda de 20% nos papéis da Petrobras.
Na abertura do pregão, a maioria das ações chegou a ser vendida apenas em leilão. É um mecanismo para evitar fortes oscilações, quando as ações saem do pregão, mas continuam sendo negociadas. As ofertas de compra e venda são registradas pela bolsa até que todas sejam aceitas. Os negócios são fechados apenas depois desse procedimento.
O dólar comercial também disparou, chegando a de 2,3% e cotação de venda a R$ 5,53. Apesar dos solavancos, oscilações ocorrem dentro do que era esperada para a abertura, considerando o que ocorre com a estatal. Mas o impacto se alastra para outras instituições com o governo como controlador, com medo de que também sofram interferência. Banco do Brasil, por exemplo, tem desvalorização superior a 11% nos papéis.
Na sexta-feira (19), a estatal já tinha desvalorizado mais de 7% na bolsa de valores de São Paulo, a B3. A situação se agravou após o fechamento do pregão, quando o presidente Jair Bolsonaro divulgou pelas redes sociais que estava indicando formalmente o general Joaquim Silva e Luna para substituir o atual presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco. De imediato, as ações da Petrobras passaram a cair no pós-mercado nos Estados Unidos, recuando quase 10%. O valor de mercado da petroleira perdeu R$ 28 bilhões na semana passada, e agora já soma prejuízo de R$ 100 bilhões. A companhia saiu de um patamar de R$ 383 bilhões na quinta-feira passada, logo antes do estouro da crise, e agora está sendo negociada a R$ 283 bilhões, ou seja, um tombo de 25% em seu valor de mercado.
Desde então, Bolsonaro reiterou a intervenção do governo federal na empresa, anunciando que mais mexes ocorrerão, se estendendo também ao setor elétrico. Motivada pela alta de preços - em especial, a elevação de 33 centavos no diesel na semana passada -, essa postura tensiona o mercado de uma forma impressionantes. Os grandes bancos de investimentos de atuação mundial - ou seja, atingem investidores estrangeiros - estão revisando suas análises sobre a Petrobras. Eles estão, inclusive, recomendando que os investidores vendam seus papéis da empresa.
Se você é acionista da Petrobras, aperte os cintos. Se tem fundos de investimento ou mesmo planos de previdência para a aposentadoria atrelados de certa forma ao Ibovespa, tente manter a calma, mas fique atento aos próximos capítulos. Tem reunião nesta terça-feira (23) do conselho de administração da Petrobras. As hipóteses vão de aceitar a indicação de Bolsonaro, desaprová-la, reconduzir Castello Branco à presidência após o fim do mandato em março até renúncia de todo o conselho. Não será nesta segunda que a discussão será finalizada. É preciso saber se o caixa da empresa será sacrificado para que não seja feito o repasse da alta dos combustíveis, além do que ocorrerá em relação aos ativos da empresa que estavam sendo vendidos dentro de uma reestruturação da companhia, o que inclui a privatização da Refinaria Alberto Pasqualini (Refap), de Canoas.
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) deve investigar a situação também. Pela Lei das Estatais, criada após a Operação Lava Jato, o acionista controlador não pode fazer manifestações que venham a prejudicar os papéis da empresa que tem capital aberto em bolsa.
Espera-se, também, alguma manifestação do ministro da Economia, Paulo Guedes. Afinal, além da intervenção da Petrobras, Bolsonaro anunciou renúncia fiscal com a isenção de tributos para diesel e gás, enquanto a equipe econômica se desdobra para achar dinheiro para a volta do auxílio emergencial.
Bolsa de valores não é loteria
Para quem defende o que está acontecendo usando esse argumento, saiba que a bolsa de valores não é loteria. É onde empresas buscam recursos financeiros para ampliar seus negócios, gerar empregos e riqueza para o país. Economias maduras têm bolsas de valores com papel importante.
Também é onde muitos investidores aplicam seu dinheiro. Tem quem busca lucro de curto prazo, e tudo bem, movimenta o mercado. Mas tem também muito plano de previdência e fundo de investimento que aplica em ações. Aliás, o investidor que compra papéis está apostando na empresa também, acreditando que ela terá sucesso no negócio e, com isso, lhe dará retorno.
- É onde as economias para aposentadoria privada de pessoas do mundo todo são direcionadas, para que os dividendos e valorização das empresas investidas paguem futuramente os valores necessários quando as pessoas aposentadas precisarem. Se a Petrobras não praticar preços internacionais ela quebra, pois os custos e investimentos que ela precisa fazer para continuar operando e prospectando são os de mercado internacional, e principalmente que ela não tem dinheiro próprio suficiente para financiar esses investimentos, e que os financiadores internacionais (não há como se financiar apenas no Brasil) aumentarão as taxas de juros se perceberem que ela não pratica preços internacionais, pelo risco de ela não conseguir pagar futuramente esses empréstimos, quase sempre de muito longo prazo. Ninguém precisa ficar escravo de mercado externo. Mas somente aqueles países e empresas que possuem condições próprias de financiamento, que gastam menos do que poupam e possuem muita poupança interna (o que não é o caso brasileiro nem nunca foi) sem precisar pedir dinheiro de fora, podem se dar ao luxo de não precisar buscar dinheiro no exterior. Por último, apostas como essa já deixaram claro o efeito nefasto na Petrobras. Dilma Roussef fez por algum tempo esse controle que Jair Bolsonaro quer fazer agora. Quase quebrou a companhia, que se tornou a mais endividada do mundo por um tempo e precisou vender ativos e reduzir investimentos - dizia mensagem enviada à coluna no final de semana por Wagner Salaverry, sócio da Quantitas Asset.
Ouça mais entrevistas sobre o assunto no programa Acerto de Contas (domingos, às 6h, na Rádio Gaúcha):
Colunista Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
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