Depois de chamar o mercado financeiro de "irritadinho", o presidente Jair Bolsonaro passou a desafiar até o limite um segmento que, apesar de alvo do desaforo, resiste em comprar briga.
Neste final de semana, há intensa especulação sobre quem é o "tubarão" que deve ser demitido, como Bolsonaro afirmou em conversa com apoiadores em Campinas (SP), depois de participar de cerimônia com cadetes do Exército no sábado.
– Se a imprensa está preocupada com a troca de ontem (a do presidente da Petrobras), semana que vem teremos mais – afirmou em discurso .
Depois, em conversa com apoiadores gravada em vídeo, detalhou:
– A gente vai fazendo as coisas, vai mudando, vai melhorando. Não tenho medo de mudar, não. Semana que vem deve ter mais mudança aí para... E mudança comigo não é de bagrinho, não, é tubarão.
Uma das possibilidades é de troca na presidência do Banco do Brasil. Em janeiro, Bolsonaro se irritou com os cortes de agências e funcionários determinados por André Brandão. Chegou a pedir a demissão do executivo, mas foi dissuadido pela equipe econômica.
Outra hipótese forte envolve um funcionário de alto escalão que já havia entrado na mira presidencial, o secretário especial da Fazenda, Waldery Rodrigues. Guardião do caixa, Waldery seria o destinatário do "cartão vermelho" dado por Bolsonaro na época da discussão sobre como abrir espaço no orçamento para o Renda Brasil, que depois virou Renda Cidadã. Interlocutores da equipe econômica relatam que estaria havendo uma "caça aos tucanos infiltrados" no ministério de Paulo Guedes. O maior alvo seria Waldery.
E Bolsonaro ainda anunciou que pretende "meter o dedo da energia elétrica":
– Assim como diziam que queriam me derrubar na pandemia fechando tudo, agora resolveram atacar na energia. Vamos meter o dedo na energia elétrica, que é outro problema.
Excluída a hipótese de que o faça literalmente, há um "tubarão" elétrico no seu radar. O curioso, neste caso, é que o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, chegou a ser cotado para a presidência da Petrobras antes da indicação de Joaquim Silva e Luna, presidente de Itaipu, porque o Centrão queria voltar para seu aconchego – políticos ligados ao bloco acumulam décadas de comando na pasta, inclusive nos governos petistas. É possível que a decisão final tenha sido influenciada pelo fato de Itaipu representar maior potencial do que o ministério.
Mas ainda que o Centrão recupere seu feudo, quem define tarifas de energia no Brasil é uma agência supostamente independente, a Aneel, cuja diretoria é indicada pela Comissão de Infraestrutura do Senado, desde que aprovada no plenário da Casa. Não é, como um banco ou uma estatal, sobre os quais Bolsonaro já disse que "eu que ponho, eu que demito". Caçar tubarões, nesse caso, vai ser um pouco mais complicado.