O Renda Brasil foi cancelado, e um novo programa social para Jair Bolsonaro chamar de seu voltou à mesa. O "cartão vermelho" à equipe econômica, mais exatamente ao secretário especial da Fazenda, Waldery Rodrigues, no entanto, não foi anulado.
Por mais que a ideia de congelar aposentadorias para bancar maior atenção a famílias carentes fosse assustadora, o resumo da ópera é que a expulsão ameaça o guardião do caixa, encarregado de dizer não a gastos excessivos.
O que ficou do episódio, depois da retomada da assistência social turbinada, foi a tentativa de intimidação a quem contraria o presidente. Entre economistas mais focados no ajuste fiscal e no mercado financeiro, a desistência do Renda Brasil havia sido bem-vista.
Embora a ideia de consolidar programas sociais fosse considerada boa, as discussões políticas estavam gerando mais incerteza no mercado. A visão dominante era de que, sem o programa, aumentaria a confiança no cumprimento de regras fiscais. Como mal passaram 24 horas e as disputas sobre de onde tirar recursos para injetar nesse plano foram retomadas, o humor voltou a piorar.
Se o programa não foi cancelado, sobrou nova rodada de preocupação com riscos fiscais, novo desgaste para a equipe como um todo e para o guardião do caixa em particular. Com o ministro da Economia, Paulo Guedes, brigado com o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), a tarefa de cavar espaço do orçamento para o programa social de Bolsonaro será de seus atuais líderes no Congresso, o que analistas veem como ainda mais preocupante.
A leitura estendida da cortante frase de Bolsonaro – "congelar aposentadorias, cortar auxílio para idosos e pobres com deficiência é um devaneio de alguém que está desconectado da realidade" – vai além do programa social. Alcançaria um dos planos de Guedes para baixar o piso e não furar o teto, o DDD (desvinculação, desobrigação e desindexação), incluído na proposta de emenda constitucional (PEC) do pacto federativo. Se há risco de uso indevido do cartão contra o guardião do caixa, melhor chamar o VAR.