Não foi à toa que a reação do presidente Jair Bolsonaro, de anunciar em vídeo a proibição de tocar no assunto Renda Brasil, veio em seguida à informação de que a equipe econômica apoiava o congelamento de aposentadorias para liberar recursos ao programa que substituiria o Bolsa Família.
A sucessão de sugestões politicamente inaceitáveis e economicamente exóticas que o ministro da Economia, Paulo Guedes, apresentou para a criação do Renda Brasil ajudou a cancelar o programa que já havia sido suspenso.
A forma como anunciou a decisão, no entanto, aumenta o risco de "cancelamento" do ministro:
— Congelar aposentadorias, cortar auxílio para idosos e pobres com deficiência, um devaneio de alguém que está desconectado com a realidade — afirmou Bolsonaro em um tuíte na manhã desta terça-feira (15).
A sugestão de desvincular os benefícios previdenciários do salário mínimo e congelar por dois anos as aposentadorias e pensões para abrir espaço no Orçamento de 2021 ao Renda Brasil foi apresentada pelo secretário especial de Fazenda do Ministério da Economia, Waldery Rodrigues. Segundo o assessor direto de Guedes, benefício que hoje é de R$ 1,3 mil seria mantido nesse valor no próximo ano, sem correção pelo INPC, como ocorre a cada ano.
Feita neste momento em que a alta de preços de produtos básicos ameaça a estabilidade inflacionária em plena recessão, a iniciativa desafia ainda mais o senso comum. A estratégia DDD — desvincular, desindexar e desobrigar — é um dos planos de Guedes desde a campanha eleitoral. Então, embora o porta-voz, desta vez, tenha sido um de seus secretários especiais, é de Guedes a ideia que, segundo Bolsonaro, é um "devaneio de alguém desconectado da realidade". Para não deixar dúvida, advertiu:
— Quem porventura vier propor a mim uma medida como essa, eu só posso dar cartão vermelho para essa pessoa.
Antes, em termos até mais suaves, Bolsonaro havia provocado interrogações sobre o futuro de seu "posto Ipiranga" ao suspender o Renda Brasil. Se Guedes já havia reclamado, ainda que em tom de brincadeira, que havia sido um "carrinho, entrada perigosa", só não um pênalti por ter sido fora da área, agora enfrenta penalidade máxima sozinho com o goleiro. A bolsa de valores sentiu o impacto: deixou de seguir a tendência positiva internacional e perdeu o nível de 100 mil pontos. Chegou a retomar, até porque Guedes afirmou que o cartão vermelho não era para ele, mas opera com muita instabilidade.
Guedes já afirmou, em uma videoconferência, que o cartão vermelho não era para ele. O secretário Waldery Rodrigues cancelou uma entrevista prevista o final da manhã desta terça-feira (15). Seja qual for o desfecho, será o de uma equipe econômica enfraquecida.