O jornalista Leonardo Vieceli colabora com a colunista Marta Sfredo, titular deste espaço.
A novela envolvendo duas universidades gaúchas teve mais um capítulo e segue sem desfecho na largada de 2021. Nesta quarta-feira (13), foi confirmado em fato relevante que a Ser Educacional e a Ânima não exerceram suas respectivas opções de compra e venda de UniRitter e Fadergs. O negócio, que também envolve uma instituição de ensino no Rio de Janeiro (IBMR), era estimado em R$ 1 bilhão.
No final de dezembro, a Ser havia pedido 15 dias antes de tomar uma decisão sobre a operação. Esse prazo se encerrou, mas não houve acordo até o momento.
A coluna lembra que, depois de uma disputa que envolveu arbitragem privada e ação na Justiça, a Ânima obteve o direito de comprar toda a operação brasileira da Laureate, controladora de UniRitter, Fadergs e IBMR.
No entanto, concordou que essas três instituições fossem vendidas para a Ser Educacional. Trata-se uma contrapartida para retirada de processos arbitrais da venda da Laureate à Ânima.
No fato relevante divulgado pela Ser Educacional nesta quarta-feira, o grupo ponderou que permanece em vigor seu direito de preferência na aquisição de UniRitter, Fadergs e IBMR. Esse direito se encerra 30 dias após o fechamento da negociação entre Ânima e Laureate.
Conforme dados da Ânima, as três instituições têm um total de 42 mil matriculados e receita de R$ 646 milhões.
OS ENVOLVIDOS NA DISPUTA
Quem vendeu
A Laureate no Brasil reunia cerca de 50 campi em 13 cidades de sete Estados e mais de 500 centros de ensino à distância. No primeiro trimestre de 2020, tinha 267 mil alunos, 82% dos quais na modalidade presencial. No Rio Grande do Sul, é dona da UniRitter e da Fadergs.
As compradoras
1. Ser Educacional: ficaria com UniRitter e Fadergs, além de uma instituição carioca, mas não exerceu o direito de compra até o momento. Foi criada em 1994, como curso preparatório a concursos, tem cerca de 50 instituições concentradas no Norte e no Nordeste, das quais a mais conhecida é a Uninassau. Tem 184,8 mil alunos e receita de R$ 1,75 bilhão. É controlada por Janguiê Diniz, ex-engraxate que foi procurador do Trabalho (leia aqui entrevista com o empresário).
2. Ânima: vai ficar com as demais instituições de ensino da Laureate no Brasil. Tem cerca de 115 mil estudantes matriculados em cursos presenciais em campi em Minas Gerais, São Paulo, Santa Catarina, Paraná, Goiás, Bahia e Sergipe. Uma de suas escolas mais conhecidas é a São Judas Tadeu, de São Paulo, sem relação com a instituição de ensino de Porto Alegre. É dona da HSM, de educação e eventos corporativos e tem parceria com a Singularity University, do Vale do Silício. Tem três sócios, entre os quais Daniel Castanho, líder do movimento #nãodemita (leia aqui entrevista com o empresário).
A LINHA DO TEMPO
2020
Meados de julho: o grupo Ser Educacional publica fato relevante em que informa sobre a disposição de compra da Laureate no Brasil. Fontes do mercado apontam interesse também da Cruzeiro do Sul, que não tem ações negociadas na bolsa.
13 de setembro: em comunicado conjunto, em pleno domingo, Laureate e Ser Educacional informam ter fechado acordo de venda por R$ 4 bilhões, dos quais R$ 1,7 bilhão seriam pagos em dinheiro.
14 de setembro: como o acordo anunciado na véspera tem cláusula que permite à vendedora avaliar ofertas maiores, a Yduqs (ex-Estácio) anuncia que tem interesse em fazer uma "proposta melhor".
7 de outubro: uma semana antes do prazo final, dois grupos além da Ser Educacional apresentam propostas, a Yduqs e a Ânima. Como a Laureate tem forte presença em São Paulo, ambas aceitam se desfazer de parte dos negócios para evitar restrições por concentração de mercado.
21 de outubro: a Laureate afirma que a melhor oferta é a da Ânima, mas a Ser Educacional entra na Justiça e consegue uma liminar contra o fechamento do negócio com a concorrente.
27 de outubro: a Ânima comunica que a Laureate aceitou sua proposta de R$ 4,4 bilhões, dos quais R$ 3,8 bilhões em dinheiro, R$ 623 milhões em dívidas que vai assumir, e mais potenciais R$ 203 milhões relativos a vagas em cursos de Medicina pendentes de aprovação.
28 de outubro: a Ser Educacional informa que a liminar que havia obtido foi revogada, mas "a questão relativa ao válido exercício do direito de go-shop será discutida por meio de arbitragem" e que "se mantém certa de seus direitos e tomará todas as medidas cabíveis para garantir o efetivo cumprimento" do acordo.
30 de outubro: a Ser Educacional anuncia o fim de disputas jurídicas e arbitrais, e que terá direito de compra das duas universidades gaúchas, além de uma instituição carioca.
2 de novembro: a Ânima Educação comunica a assinatura do contrato de compra dos negócios da Laureate no Brasil.
28 de dezembro: anunciada a prorrogação do prazo para que a Ser Educacional confirme a intenção de compra de UniRitter, Fadergs e do Centro Universitário Hermínio da Silveira, no Rio de Janeiro.
2021
13 de janeiro: Ser Educacional e a Ânima não exercem suas respectivas opções de compra e venda de UniRitter e Fadergs, além de uma instituição de ensino no Rio de Janeiro (IBMR).