Um dos nomes mais associados ao setor de eventos no Estado, Marta Rossi, da Rossi & Zorzanello, confessa que aderiu ao negacionismo no início da pandemia. Nos primeiros dias, reagiu com irritação às restrições da atividade. Quando começou a ver doentes e mortos, mudou de posição:
– Fui negacionista, hoje não sou mais.
Isolamento
"Estou trabalhando na empresa. Fiquei afastada apenas nos primeiros 14 dias, conforme determinação. O time ficou fora nos primeiros 30 dias. Foi uma corrida enlouquecida para salvar a empresa e os empregos de nossos funcionários. Nunca trabalhamos tanto. Todos os eventos do primeiro semestre foram cancelados, com exceção do Festuris (Feira Internacional do Turismo, de 5 a 8 de novembro). À medida que o tempo passou, mais convictos ficamos de que eventos, especialmente os corporativos, poderiam, sim, ocorrer seguindo os protocolos determinados. Vencemos algumas batalhas: não demitimos, e a equipe não foi contaminada pelo vírus, com exceção de uma pessoa. Criamos eventos para gerar recursos para a empresa e realizamos a primeira feira de negócios presencial das Américas no setor de turismo desde o início da pandemia. Abriu o calendário estadual e o nacional de feiras. Não deixamos nos aprisionar pela pandemia. Procuramos fortalecer que teríamos de aprender a conviver com este novo momento e nos doar um ao outro, cuidar um do outro. O momento exigia não apenas mudanças de hábitos e comportamento, mas, sobretudo, comprometimento com o grupo, com a comunidade e com o todo."
Leitura e lazer
"Leio muito, especialmente o que está relacionado à minha atividade, mas sempre tenho um bom livro na cabeceira. Agora estou lendo Homo Deus, de Yuval Noah Harari. Os filmes também ocupam meus sábados, não tenho preferências, absorvo todos. No último, assisti O Estagiário. E brinco muito, minhas duas netas transformaram minha vida em um arco-íris. São exercícios criativos incríveis, aprendo muito."
Combate ao coronavírus
"No início da pandemia, me senti parte de um filme de ficção. Não conseguia acreditar que alcançamos um grau de desenvolvimento tão grande, com tecnologia bombando, e um vírus surgido da natureza, em um mercado de animais em Wuhan, onde existe o Centro de Pesquisas Epidemiológicas da China, colocava o mundo de joelhos e nos aprisionava. Depois, veio a certeza de que esta era a Terceira Guerra Mundial. Hoje me sinto um pouco na Idade Média, quando pestes e epidemias abatiam mais do que a guerra e eram absorvidas com resignação. Mas nunca me deixei abater pelo medo, porque riscos na vida corremos todos os dias. A vida não nos permite vacilar, porque aí tropeçamos nas muitas pedras pelo caminho. Respeito todas as medidas tomadas pelos governos, considerando os parcos conhecimentos que tinham no início da pandemia e ainda tem sobre o assunto. Sim, erramos muito, mas foram tentativas de acertos sobre o desconhecido, porque a própria OMS não sabia para que lado andar. Não vejo que tenhamos falhado mais ou menos do que em outros países. Salvo a China, que quando trouxe o assunto a público, há muito estava lidando com o problema. O que aconteceu no início da pandemia foi o negacionismo, e eu fazia parte deste grupo. Como acreditar? O vírus foi subestimado porque ninguém nunca imaginou que em pleno século 21 surgisse uma arma tão potente. Tudo foi analisado a partir de experiências mais recentes e não de cem anos atrás, como foi a gripe espanhola."
Aprendizado
"Aprendi a ter de lidar com a paciência. Sempre quis as coisas para ontem, com o olho no amanhã. De repente, me dei conta de que temos o tempo presente. Aprendi que o melhor lugar do mundo é a casa da gente, o quanto somos pequenos e arrogantes em relação à natureza, que o Rio Grande do Sul e o Brasil têm lugares lindos para visitar e, em especial, que a máquina nunca vai substituir as emoções. O ser humano não nasceu para viver em isolamento. Precisa do afeto, do encontro e do acolhimento. Não somos uma ilha. Assim como em todos os ciclos difíceis vividos pela humanidade, sairemos deste mais fortes, mais preparados, mais humanos e menos arrogantes. Pelo menos por um tempo."
Reflexões
"A pandemia nos fez refletir mais sobre o sentido da vida, procurando aproveitá-la de forma mais saudável, mais desprovida de ansiedades e angústias, pois o fim dela pode estar no espirro de um amigo ao nosso lado. Também nos remete a uma reflexão sobre os nossos hábitos de higiene que foram esquecidos ao longo do tempo. Também discutimos muito sobre levar mais a sério a execução de um plano B nos negócios, para que não sejamos pegos de surpresa. O 'se' nunca foi tão importante como agora."