Em meados de março, logo depois do início da quarentena, o pânico dominou a Bellenzier, rede de revenda de pneus e prestação de serviços automotivos com unidades no Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Sua diretora, Nilva Bellenzier, refugiou-se em casa para se proteger do contágio. Perguntou-se se o negócio ia quebrar. Corta. Em meados de novembro, comemora os resultados nos nove primeiros meses do ano, que superaram os do mesmo período de 2019. Com forte atuação no atacado e bons estoques, ajudou a trocar pneus de caminhões que rodaram mais na pandemia para entregar compras online. Também vendeu muito pneu de trator e colheitadeira. Até a disparada do dólar ajudou, porque a rede revende a marca Pirelli, feita no Brasil, com custos em reais, portanto com menor alta do que os concorrentes. Nilva contratou cerca de 20 pessoas na pandemia para reforçar o time de 215 funcionários.
— Está faltando pneu no mercado, vários tipos. Conseguimos crescer nos segmentos em que tínhamos estoques. As fábricas pararam durante um mês, e a volta foi gradual. Houve mais demanda de troca com o aumento das entregas. Em relação a outubro de 2019, mesmo com falta de produto, nossa venda cresceu quase 50% em volume. É quase inexplicável, mas tudo ajudou.
Isolamento
"Sou pessoa do grupo de risco, porque tenho mais 60 anos. Meu marido, que é cardiopata, botou o terror (risos). Fiquei março e abril sem sair de casa, trabalhando só por Zoom e telefone. Depois, tive de voltar, os funcionários estavam preocupados. Nossa atividade foi considerada essencial e ficamos abertos, com equipes reduzidas. Nos primeiros dias, deu certo pânico, ninguém ia para loja. Pensávamos 'será que vamos quebrar?'. Demos férias, porque o fluxo de clientes era muito baixo, mas não demitimos por causa da pandemia. Chamamos clientes inativos para serviços como troca de óleo, geometria, balanceamento, além da troca de pneus. E começou um movimento muito forte no atacado, onde somos fortes, provocado pela demanda por pneus de caminhão. As coisas foram melhorando a partir de junho. Em setembro, havíamos recuperado o que perdemos. Até outubro, acumulamos mais faturamento e lucro do que de janeiro a outubro de 2019."
Leitura e lazer
"No início, acompanhávamos pela imprensa, mas o exagero com as estatísticas da morte nos fez abandonar notícia ruim. Passamos a escutar música, ler livros de autoajuda, economia, ver filmes e estudar língua italiana."
Combate ao coronavírus
"Sempre tivemos preocupação com a saúde preventiva e passamos a acrescentar alguns ingredientes, como vitaminas. Seguimos os protocolos. Mesmo com todas as lojas abertas, poucos funcionários tiveram covid-19. E nos casos que surgiram, ficou comprovado que a contaminação foi fora da empresa e que os colegas não foram contaminados."
Reflexões e aprendizado
"A cultura do home office se instalou. Mesmo passada a pandemia, vou seguir alguns dias nessa modalidade. Aprendi também o quanto é importante o convívio presencial com funcionários, amigos e familiares, mas pode ser dosado. A maior reflexão que fiz foi o quanto somos vulneráveis a fatores externos e o quanto devemos ser ágeis para replanejar nossas empresas."