Lançado em outubro, o livro O Lado Místico do Comércio, do antropólogo e consultor Maroni João da Silva se foca em três grandes redes nacionais — Carrefour, Magazine Luiza e Lojas Renner. Conforme explicou à coluna, o autor aborda o impacto da cultura organizacional temperada pelo que ele chama de "fatores que não obedecem só a racionalidade econômica".
Maroni aponta o altruísmo no Carrefour, os rituais no Magalu e o encantamento da Renner como esses pontos para além dos vínculos habituais com o propósito das empresas:
— Essa ideia do propósito, que é do repertório do mundo corporativo, é mais um modismo. O que constatei nas minhas pesquisas foi a necessidade de as empresas trabalharem mais o lado emotivo das equipes, um discurso mais conectado com a realidade. Pouco antes da pandemia, outro conceito novo nessa área, o da felicidade, vinha sendo alardeado das mais diversas formas, mas parou um pouco. As pessoas estão muito machucadas com o cenário que estamos vivendo. Muitos pararam para pensar que tipo de trabalho se pode fazer daqui para a frente para continuar sobrevivendo. O modo de produção prometeu muita coisa que não entregou.
A coluna estranhou o conceito "místico" aplicado ao encantamento da Renner. Maroni sustenta que trabalha com uma dimensão metafísica, o sentimento interno das pessoas. O criador do conceito, José Galló, atualmente presidente do conselho de administração da rede gaúcha, não se opôs à caracterização:
— Com o tempo, vamos chegando à conclusão de que os colaboradores que encantam clientes recebem reconhecimento/agradecimento e geram um processo de retroalimentação de 'quem encanta é encantado', resultando em clientes e colaboradores felizes. Isso também acaba dando outro sentido ao trabalho das pessoas: são mais do que vendedores, são encantadores de clientes.
No caso da Magalu, o pesquisador aponta o culto ao "absoluto" comum em rituais que são descritos como "de comunhão". Maroni detalha que o objetivo não é doutrinário, as pessoas têm crenças diferentes, mas é uma forma de criar um elo para além do profissional.
— São atitudes de empresas que ganham uma dimensão mais inspiradora, as pessoas se envolvem e se engajam de forma mais eficiente do que quando trabalham com racionalidade e regras.
O livro tem base acadêmica: é fruto de tese de doutorado em Ciências Sociais pela PUC-SP, concluída em 2017. Maroni é sócio-diretor da Textocon, Comunicação & Cultura Organizacional, fez mestrado e doutorado na PUC-SP, em cultura organizacional, e pós-graduação lato sensu na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, sobre em Globalização e Cultura. Em Porto Alegre, trabalhou como repórter de Zero Hora e da Folha da Manhã e editor na Rádio Gaúcha.