À frente do Tartoni Ristorante e da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes no Rio Grande do Sul (Abrasel-RS), a empresária Maria Fernanda Tartoni teve o trabalho multiplicado na pandemia. O segmento está entre os mais afetados pelas medidas de distanciamento impostas para combater o vírus. Segundo a empresária, além de criar o delivery de refeições, buscou ajudar os colegas associados. Com restaurante no Bourbon Country, inicialmente não pôde nem oferecer telentrega. A solução foi alugar outra cozinha e iniciar o delivery no novo espaço. Agora, tem espaço no Galpão Food Hub, no bairro Sarandi, que reúne as cozinhas de restaurantes tradicionais da Capital.
— Da noite para o dia, iniciei um trabalho que não é simplesmente colocar comida dentro de uma embalagem e entregar, vai muito além disso. Trabalho há quase 16 anos para ter uma marca forte no mercado, para ter credibilidade e não podíamos perder isso, mesmo nesse momento de pandemia — diz Fernanda.
Isolamento
“Não fiz. Além de proprietária do restaurante, sou presidente da Abrasel-RS. A partir de 20 de março, quando saiu o decreto fechando bares e restaurantes, tive de trabalhar mais para, ao mesmo tempo, direcionar meu negócio e ajudar os associados. Tentei buscar o máximo de informações sobre o que poderia acontecer. No restaurante, mandei todos os funcionários para casa e coloquei a cabeça para funcionar. Tentei devolver estoques, alguns fornecedores aceitaram, outros não. Nos primeiros meses de fechamento, os estabelecimentos em shoppings não eram autorizados nem a operar no modelo telentrega, então fui atrás de uma cozinha para montar o delivery. Naquele momento, foi a única solução. Comecei a operar e a partir disso, foi um novo momento. Da noite para o dia, ingressei em um trabalho que não é simplesmente colocar comida dentro de uma embalagem e entregar, vai muito além disso. Tive de, no susto, entender um pouco de delivery, para manter o Tartoni. Não sabíamos que ficaríamos tanto tempo fechados. Desde o início da pandemia, vou trabalhar todos os dias e tomo todos os cuidados possíveis: fico distante das pessoas, uso máscara, álcool gel. Chego em casa e tomo banho, já ponho a roupa para lavar.”
Leitura e lazer
“Na verdade, nesse momento de pandemia foi o em que mais trabalhei, pois tive que conduzir a associação. Inicialmente, estávamos perdidos. No papel de líder, tive de trabalhar bastante. No restaurante, tive de reformular o negócio. Os funcionários responsáveis pelo atendimento tiveram contrato de trabalho suspenso. Junto com a turma da cozinha, que abraçou a causa comigo, fui arregaçar as mangas e fazer. Atendemos das 11h até 22h, estava sempre na função. Então, leitura e lazer foi quase nada. Como sempre precisa um contraponto, a primeira coisa é dormir bem. Desde o primeiro dia, defini que não adiantava não dormir, ficar estressada, pois isso só piora. Tenho muitos amigos e, às vezes, fazemos chamadas de vídeo para matar a saudade. E fiquei perto da minha família. Moro bem perto dos meus pais e das minhas irmãs, mantivemos o convívio, com todo o cuidado. E, no tempinho que sobrava assistia uma série, para distrair um pouco a cabeça.”
Combate ao coronavírus
“A gente tomou todas as precauções com o uso de máscaras, álcool gel, analisamos todos os protocolos, conversamos com muita gente para entender um pouco mais como poderíamos manter o funcionamento, respeitando todas as medidas oficiais. Em relação ao meu negócio, e na vida pessoal também, sempre tomo os cuidados necessários.”
Aprendizado
“O maior aprendizado que tive nesse momento foi aquele velho ditado ‘a união faz a força’. Precisei de ajuda e outros precisaram da minha. O fato de não nos vermos pessoalmente não significa que não tenhamos de unir forças. Nesse momento, essa união não é física, mas sim de intelecto, todo trabalho colaborativo é muito importante. Aprendi também que tenho resiliência maior do que pensei que teria. Foi bem difícil. O meu setor foi um dos mais afetados na pandemia, tanto que temos risco de perda de 40% no setor. Claro que o dono de restaurante, que trabalha com paixão e amor, é muito resiliente. Se não fosse uma pessoa de fé, não estaria tranquila agora, conversando. Hoje posso dizer que, apesar de muitos problemas que ainda tenho pela frente - a pandemia não acabou, a situação financeira não se regularizou - ter fé foi muito importante.”
Reflexões
“A vida é tão sutil, da noite para o dia tudo pode mudar. Por mais preparado, por mais que tu estejas cercado de soluções, nem sempre vão servir. Por isso, é sempre importante se reinventar, buscar o novo, olhar para o que está acontecendo no mercado, nas relações. Não foi só o meu negócio que foi prejudicado, mas as relações de maneira geral. Estamos com saudade de muita gente, nosso emocional fica abalado. O Tartoni hoje tem delivery. Acabei indo para o Galpão Food Hub, espaço focado em entrega, mas que já se prepara para atender clientes. Mesmo na pandemia, em momento de crise, conseguimos nos reinventar e fazer um delivery de qualidade. As pessoas estão gostando. A reflexão é sempre estar ligado no que acontece no mercado e nunca baixar a cabeça.”