O jornalista Leonardo Vieceli colabora com a colunista Marta Sfredo, titular deste espaço.
Esta semana deve ser marcada pela pausa no recente ciclo de cortes na taxa básica de juro do país. Depois de nove reduções consecutivas, o Banco Central (BC) tende a manter a Selic inalterada, na mínima histórica de 2% ao ano, indicam analistas do mercado financeiro.
O Comitê de Política Monetária do BC (Copom) discute o tema a partir de terça-feira (15). O resultado da reunião sai na quarta-feira (16). Com a pressão gerada pela pandemia, o colegiado foi forçado a cortar a Selic nos últimos meses.
A questão é que as reduções tendem a levar algum tempo até provocarem efeitos mais robustos em linhas de crédito para consumidores e empresas. Em períodos de crise, esse movimento fica ainda mais complicado, já que bancos enxergam mais riscos no horizonte, como aumento no desemprego e na inadimplência.
Após a reunião mais recente, em agosto, o Copom não fechou a porta para novas reduções na taxa de juro. Contudo, reconheceu que o espaço para cortes seria "pequeno".
De lá para cá, surgiram elementos que sustentam a projeção de Selic inalterada nesta semana. O principal é o choque em preços de alimentos. Na teoria, pressões sobre a inflação, que segue controlada na média, fazem o Copom adotar cautela em relação ao juro básico.
– Em agosto, o BC tinha sinalizado que a reunião de setembro seria para parar e ver o que estaria acontecendo. Há informações novas, como o choque de alimentos e as dúvidas fiscais. Faz sentido parar para olhar – avalia o economista-chefe do banco BNP Paribas no Brasil, Gustavo Arruda (leia entrevista aqui).
O preço salgado de alimentos tem ligação com o dólar em patamar elevado, acima de R$ 5. Produtos básicos são cotados em moeda americana no mercado internacional. A alta no dólar, por sua vez, está relacionada ao juro na mínima histórica.
Ao mesmo tempo em que tenta estimular aportes de empresas para aumento de produção, a Selic em baixa faz com que parcela de investidores estrangeiros deixe o país. Isso ocorre porque a diferença fica menor entre o juro de aplicações no Brasil e o registrado em outras regiões.
Assim, correr mais riscos no país, com retorno inferior ao de outras épocas, acaba afastando parte dos investidores. A saída de estrangeiros reduz a quantidade de dólares no Brasil, o que incentiva a alta na moeda.