Em entrevista do novo embaixador da Argentina no Brasil, Daniel Scioli, ao jornal Valor Econômico, o político convertido em diplomata disse que propôs um "grande projeto" entre Brasil e Argentina.
Seria o ambicionado gasoduto Uruguaiana-Porto Alegre, que foi projetado ainda na década de 1990, sem nunca obter viabilidade de financiamento.
Scioli foi vice-presidente da Argentina no primeiro mandato de Néstor Kirchner e candidato à Presidência em 2015, quando foi derrotado por Maurício Macri. Conforme Scioli, o duto exigiria investimento de US$ 3,7 bilhões (quase R$ 20 bihões, em valores atuais) entre uma gigante jazida de gás de xisto na província de Neuquén e Uruguaiana. A parte brasileira é estimada pelo novo embaixador em US$ 1,2 bilhão.
A reserva tem nome de "Vaca Muerta", mas ajudou a ressuscitar a produção de combustíveis na Argentina: saem de lá 70 milhões de metros cúbicos diários o que corresponde a duas vezes a quantidade máxima que entra no Brasil vinda da Bolívia , nas mãos de corporações globais como Exxon e Shell.
"Gás de xisto" é a tradução consagrada para o português do shale gas, que ajudou a transformar os Estados Unidos no maior produtor do planeta (os cálculos somam petróleo e gás). Essa grande expansão da produção ajudou o petróleo a registrar cotação negativa neste ano, pela primeira vez na história.
O assunto, que ressuscitou com a compra da Central Térmica de Uruguaiana pela argentina Saesa, é encarado com prudência. O presidente da empresa, Juan Bosch, disse à coluna que é "prematuro" falar de gasoduto agora. Detalhou que o país enfrenta, neste momento, um debate sobre um novo marco regulatório para o segmento de gás.
No Estado, o gasoduto compõe um plano que inclui a tentatativa de reativar uma térmica em Rio Grande. O secretário de Meio Ambiente e Infraestrutura, Artur Lemos, pondera que "faz sentido ter essa perspectiva, sem deixar de construir alternativas agora que contribuam para este empreendimento".