Em claro indicativo de que entendeu o recado do ministro da Economia, Paulo Guedes, o presidente Jair Bolsonaro deu o primeiro sinal de que está interessado na permanência do titular no cargo. É importante, porque já havia dúvida.
Nas redes sociais, Bolsonaro reiterou o compromisso com a privatização e o teto de gastos, mas terá de fazer muito mais do que isso para manter Guedes no cargo.
Não há mais espaço para hesitação depois do tom desafiador do ministro ao falar em "debandada" e deixar claro que ocorreu porque compromissos de campanha não estão sendo cumpridos. Nesta quarta-feira (12), Guedes recebe apelos de economistas e empresários para que permaneça no cargo, retomando seu papel de fiador de uma agenda mais liberalizante.
Já está claro para todos que não será possível fazer o que Guedes acenava durante a campanha eleitoral. Não haverá privatização total, será preciso conviver com gastos maires do que se esperava durante algum tempo.
A base de apoio do presidente aceita os gastos extraordinários, mas essenciais, com a pandemia. Até a aproximação com o Centrão é tolerada para evitar a abertura de um processo de impeachment, caso o presidente cumpra o combinado. Mas crescem as comparações entre Bolsonaro em 2020 e Dilma Rousseff em 2014, como as feitas pela economista Zeina Latif em entrevista à coluna:
— Talvez as consequências de errar o momento não fiquem claras tão rapidamente quanto em 2014. Se o presidente mira a reeleição em 2022, tem alto risco de cometer excessos agora.
Nesta quarta-feira (12), em entrevista à GloboNews, Marcos Lisboa, reforçou o alerta, afirmando que o risco envolvido nas decisões de Bolsonaro sobre teto de gastos é semelhante ao de 2015, quando o excesso de estímulos à economia provocou rombo orçamentário, disparada da inflação e necessidade de elevar juro.
Não é só o Centrão que pressiona Bolsonaro a gastar mais para garantir a reeleição. Ministros militares e até um civil, Rogério Marinho, do Desenvolvimento Regional, pedem mais espaço no orçamento da União para obras de infraestrutura, retomando os debates do Pró-Brasil, o plano que teve sete telas de power point mas ainda ecoa no imaginário do núcleo duro do Planalto.
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