Está na aproximação do presidente Jair Bolsonaro com o Centrão a origem da "debandada" do Ministério da Economia, como o próprio Paulo Guedes caracterizou o movimento de saída de auxiliares.
Com a saída de Salim Mattar, secretário especial de Desestatização, e do gaúcho Paulo Uebel, secretário especial de Desburocratização, Gestão e Governo Digital, nesta terça-feira (11), a conta chega a cinco baixas no time liberal. Já foram Mansueto de Almeira, secretário do Tesouro, Rubem Novaes, do Banco do Brasil, e Caio Megale, diretor de programas da Secretaria Especial de Fazenda.
Se já havia obstáculos para cumprir os planos de Guedes e de seus auxiliares antes que Bolsonaro buscasse apoio nos mais autênticos representantes da "velha política", os novos compromissos políticos inviabilizaram boa parte da agenda programada.
Ao admitir a "debandada" e citar explicitamente que Mattar saiu porque a privatização não deslanchava e Uebel abandonou o posto porque a reforma administrativa não avança, Guedes dá o que talvez seja sua última cartada. Expõe o que ele e sua equipe não podem fazer porque o presidente e seus novos aliados não permitem. Pressiona Bolsonaro. Se for ignorado, pode aderir à "debandada".
Nas últimas semanas, vinha crescendo a preocupação entre economistas comprometidos com o ajuste fiscal ou, ao menos, a gestão racional da economia. Em entrevista à coluna, Zeina Latif vocalizou essa inquietação:
— Talvez as consequências de errar o momento não fiquem claras tão rapidamente quanto em 2014. Se o presidente mira a reeleição em 2022, tem alto risco de cometer excesso agora. Como a inflação está muito baixa, ele pode pensar 'vou arriscar'. No fundo, foi o cálculo que a Dilma fez, por convicção ou oportunismo político.(...) Ela pensou que a bomba ia estourar, mas seria eleita. Não conseguiu consertar, e o o resto a gente já sabe.
A quem quisesse ouvir, havia um coro de alertas sobre a necessidade de respeitar o teto de gastos, a regra de ouro, a Lei de Responsabilidade Fiscal. A necessidade de fazer a reforma administrativa foi acentuada por Marcelo Neri, diretor do FGV Social, no estudo sobre a concentração de renda no Brasil. Nesta terça-feira (11), antes do anúncio oficial, a inquietação já havia chegado ao mercado financeiro. O risco de perda de controle da situação fiscal foi assunto nas mesas de operação. O futuro da gestão da economia vai ser o assunto do dia seguinte.
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