Pouca gente entendeu quando o presidente Jair Bolsonaro afirmou, na terça-feira (18) que o ministro da Economia, Paulo Guedes, "não pediu para sair". O boato sobre a renúncia do fiador da política econômica do governo era assunto só em pequenos grupos em Brasília, não havia chegado nem ao mercado financeiro. Ao longo da noite, com o cancelamento da solenidade de lançamento do programa Brasil Mais para que Bolsonaro estudasse a proposta, seguido de reunião do núcleo central do Planalto e dos presidentes da Câmara e do Senado, ficou claro do que se tratava: Guedes havia condicionado sua permanência ao encaminhamento da reforma administrativa.
Ao que tudo indica, Guedes venceu a parada. Há poucos dias, Bolsonaro havia afirmado que não havia "clima político" para enviar a proposta ao Congresso antes do Carnaval, como queria Guedes. Foi depois que o ministro perdeu o filtro nos discursos, chamando servidores públicos de "parasitas" e dizendo que empregadas domésticas não devem ir a Disney.
No mercado financeiro, circula a informação de que Guedes ameaçou, de fato, com demissão, insatisfeito com as resistências de Bolsonaro e da ala política à reforma. Tanto é que o presidente fez questão de avisar que passaria a noite estudando o texto entregue vários dias antes. Agora, a expectativa é de que a proposta das mudanças administrativas, que não devem atingir os atuais servidores, apenas os futuros, possa seguir entre esta quarta-feira (19) e quinta-feira (20) para o Congresso, como queria o ministro.
Ou seja, Guedes venceu. Mas na avaliação política e de mercado, como um gamer ao subir de fase, "gastou uma vida". Superou a crise, avançou no jogo, mas ficou exposto a perigos futuros, com um ativo a menos. Assim como durante a campanha, quando se perguntavam como conviveriam a disposição liberal do então futuro ministro e o corporativismo e nacionalismo do candidato à época, voltaram as apostas sobre quanto tempo Guedes sobrevive na cadeira.