O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta terça-feira (18) que solicitará uma perícia independente sobre o corpo de Adriano Nóbrega, o ex-capitão da Polícia Militar acusado de integrar uma milícia e que foi morto numa operação policial na Bahia. Bolsonaro disse ainda que uma eventual "queima de arquivo" não interessaria a ele.
Na entrada do Palácio da Alvorada, onde cumprimentou um grupo de eleitores, o presidente disse que o miliciano não teria nada para falar contra ele se estivesse vivo e criticou a conduta das forças policiais na operação que matou Nóbrega.
— Interessa a quem queima de arquivo? A mim? A mim não. A mim, zero — disse. — Poderia interessar a alguém a queima de arquivo. O que ele teria para falar? Contra mim que não teria nada. Se fosse contra mim, tenho certeza que os cuidados seriam outros para preservá-lo vivo — acrescentou.
O presidente disse ainda que reportagem da revista Veja, que entrevistou os peritos sobre o episódio, mostra que os tiros disparados contra o miliciano foram a curta distância, o que reforçaria a tese de queima de arquivo. Para Bolsonaro, sem uma perícia independente, dificilmente será possível desvendar o crime.
— Estou pedindo, e já tomei as providenciais legais, para que seja feita uma perícia independente. Porque, sem isso, você não tem como buscar, quem sabe, quem matou a (a ex-vereadora) Marielle (Franco). A quem interessa não desvendar a morte da Marielle? Aos mesmos a quem não interessa desvendar o caso (do ex-prefeito) Celso Daniel — afirmou.
A ex-vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) foi morta a tiros em 2018, em um crime que, segundo as investigações da Polícia Civil, teria o envolvimento de grupos milicianos. Já o ex-prefeito de Santo André (SP) Celso Daniel (PT) foi assassinado em 2002 após ter sido sequestrado. A investigação aponta que ele foi morto em um crime comum, sem motivação política.
A fala de Bolsonaro faz referência a uma decisão de segunda-feira (17) da Justiça do Rio de Janeiro, que liberou o Instituto-Médico Legal (IML) fluminense de preservar o corpo de Nóbrega. O juiz Guilherme Schilling revogou a própria decisão de quinta-feira passada (13), quando determinou que o IML preservasse o cadáver.
Na nova determinação, o magistrado afirmou que o pedido sobre a manutenção do corpo e a autorização de uma perícia independente deveria ser avaliada pela Justiça da Bahia, que será a responsável por investigar a morte do ex-PM.
O desejo de Bolsonaro é o mesmo da família de Nóbrega, que solicitou à Justiça uma avaliação independente sobre as marcas dos projéteis que atingiram o ex-PM. A defesa do ex-capitão também suspeita de uma "queima de arquivo".
O senador Flávio Bolsonaro (RJ) também protestou contra o relatório da PM da Bahia sobre o caso, dizendo que Adriano foi torturado. "Foram sete costelas quebradas, coronhada na cabeça, queimadura com ferro quente no peito, dois tiros a queima-roupa, um na garganta de baixo para cima e outro no tórax, que perfurou coração e pulmões", afirmou, em uma postagem na qual mostrou também um vídeo do cadáver de Adriano sem roupas.
O ex-PM foi morto no município de Esplanada, ao ser alvo de operação que envolveu as polícias baiana e fluminense. Ele estava foragido desde janeiro de 2019, quando foi deflagrada a operação Os Intocáveis, do Ministério Público do Rio de Janeiro, que investigou a milícia de Rio das Pedras, a mais antiga da capital.
As investigações apontam que o ex-policial militar era chefe da quadrilha. Outras apurações apontam a atuação dele em homicídios profissionais e na exploração do jogo do bicho e máquina de caça-níqueis.
Quem era Adriano da Nóbrega
O ex-capitão foi preso e solto três vezes, expulso da PM em 2014, homenageado pelo então deputado estadual Flávio Bolsonaro duas vezes e defendido pelo presidente Jair Bolsonaro ao ser acusado de homicídio em 2005.
Também teve duas familiares nomeadas no antigo gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). Sua ex-mulher, Danielle Mendonça da Costa da Nóbrega, foi empregada em 2007 e sua mãe, Raimunda Veras Magalhães, em 2016. Ambas foram exoneradas no fim de 2018 a pedido.
Quem as indicou para os cargos foi Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio que foi companheiro de Adriano no 18º Batalhão da PM fluminense e hoje é investigado por lavagem de dinheiro e ocultação de patrimônio.
O miliciano é citado nessa investigação, que apura a prática de "rachadinha" no gabinete do filho mais velho de Bolsonaro na Alerj. De acordo com o Ministério Público, ele controlava contas bancárias usadas para abastecer Queiroz, suspeito de ser o operador do esquema.