A carta assinada por 20 governadores, inclusive o do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, manifesta de forma elegante o constrangimento que atitudes do presidente Jair Bolsonaro vêm provocando para além dos gabinetes desses líderes. A colunista que assina este espaço está voltando de férias e pôde constatar, desolada, como chegam a estrangeiros as notícias sobre o Brasil. Na manhã desta terça-feira (18), Bolsonaro acrescentou mais um motivo de embaraço para os brasileiros, ao ofender uma jornalista com insinuação de natureza sexual. É o tipo de declaração não vira notícia só aqui. Tem eco lá fora, da mesma forma que comportamento semelhante de outro chefe de Estado.
Quem tinha expectativas sobre um dia o país deixar de ser visto como uma república de bananas deve recuar três casas: a imagem ficou pior do que isso. O tom das notícias sobre as circunstâncias da morte do miliciano Adriano da Nóbrega é assustador para um brasileiro. É preciso observar que, para estrangeiros, é mais difícil perceber nuances, mas o que conta para a formação de imagem é mesmo a percepção.
Isso, em um momento em que grandes empresas e fundos de investimento nunca valorizaram tanto a relação com todos seus públicos relacionados. No jargão corporativo, esse grupo, chamado de stakeholders, agora disputa importância com o formado por acionistas, chamado de shareholders. O que se discute, no mundo dos negócios, é que os stakeholders agora "mandam mais" do que os shareholders, que podem ser considerados os donos das companhias. Ambos estão relacionados ao futuro do Brasil: os acionistas decidem se investem ou não aqui, e os demais tomam decisões sobre comprar ou não produtos brasileiros.
Até agora, o mercado financeiro tem exibido certo nível de blindagem ao constrangimento, mas a falta de entrega de resultados na economia real começa a cobrar seu preço com o declínio das expectativas de crescimento para 2020. Depois da inversão de tendências em 2019 – o tradicional encolhimento das projeções no início do ano foi seguido por uma reação no final do período –, havia perspectiva de que o otimismo que precedeu o início deste ano finalmente se concretizasse.
O governo finalmente percebeu o desgaste causado por uma ala ideológica radical e desafiadora do senso comum. Mas há muito a fazer, ainda, para reconstruir a imagem de um país no qual o poder central está perigosamente próximo a uma organização criminosa, outra vez. Se a corrupção exposta pela Lava-Jato constrangeu o país e comprometeu a imagem no passado recente, agora constrangimento e comprometimento são revisitados pela gestão que prometia superar esse período.