O jornalista Leonardo Vieceli colabora com a colunista Marta Sfredo, titular deste espaço.
Um dos ditados que atravessam gerações no Brasil é o de que o ano só começa depois do Carnaval. Em 2020, a festa ainda nem chegou, mas o movimento indigesto de frustração de expectativas econômicas já ensaia volta ao país.
Nesta segunda-feira (17), o relatório Focus, produzido pelo Banco Central (BC), indicou essa tendência. Segundo o documento, que reflete a visão de analistas do mercado financeiro, a projeção de avanço do Produto Interno Bruto (PIB) em 2020 caiu para 2,23%. Até a semana passada, a alta prevista na mediana era de 2,3%.
A revisão para baixo de expectativas de crescimento vem sendo registrada ano a ano após a última recessão, que ocorreu entre 2015 e 2016. A título de comparação, no início de 2019, o mercado financeiro esperava avanço de 2,5% no acumulado daquele ano. A marca diminuiu para cerca de 1%.
Em 2020, uma combinação de fatores internos e externos explica o recente corte nas projeções. No cenário internacional, o surto de coronavírus na China surpreendeu analistas ao trazer riscos para a economia global. O país asiático é o principal destino das exportações brasileiras. Abocanha itens como minério de ferro, soja e carnes.
No ambiente interno, tensões envolvendo o governo Jair Bolsonaro e temores em relação ao andamento da agenda de reformas pesam na avaliação de analistas. Economista-chefe da Geral Asset, Denilson Alencastro acrescenta que dificuldades existentes no mercado de trabalho refletem o desempenho da economia:
— A retomada está acontecendo, mas não na velocidade esperada.
Na reta final de 2019, perda de fôlego em setores como a indústria acendeu alerta. As fábricas, aliás, tendem a encontrar uma série de desafios ao longo deste ano. Destino de produtos da indústria brasileira, a Argentina segue mergulhada em dificuldades. Estudo do centro FGV Ibre aponta que a crise vizinha pode “tirar” pelo menos 0,36 ponto percentual do PIB brasileiro em 2020.