No dia seguinte ao anúncio do Pró-Brasil, o plano do governo federal para reconstruir a economia, a perplexidade é a sensação predominante entre os economistas. Ninguém entendeu porque o governo federal fez questão de anunciar um conjunto de intenções que nem pode ser chamado, com precisão, de plano econômico. O recado que ficou mais claro é que o ministro da Economia, Paulo Guedes, não é mais o dono e senhor da estratégia na sua própria área, no mesmo dia em que também ficou demonstrado que o novo ministro da Saúde, Nelson Teich, não terá autonomia na sua própria pasta.
Em uma das imagens populares – ainda que inexata – , o governo trocou seu Posto Ipiranga (rede privada, símbolo do liberalismo de Guedes) pelo BR (rede que hoje tem capital pulverizado no mercado, mas ainda com forte imagem estatal). Um plano que supostamente envolveria investimentos totais de R$ 300 bilhões foi apresentado em sete lâminas de power point, sem qualquer detalhamento a não ser as duas grandes fases, chamadas de "ordem" – reorganização dos marcos regulatórios em nome da segurança jurídica – e "progresso" – o conjunto de obras que seriam estimuladas.
Diretor-executivo do Instituto Fiscal Independente, Felipe Salto tuitou:
Ficou tão longe do que seria uma estratégia consistente que o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), cujo presidente havia encomendado aos economistas da casa ideias para um "Plano Marshall", de reconstrução da economia, fez questão de avisar que não participa do conjunto de intenções da Casa Civil. O ministro-chefe da pasta, general Walter Braga Netto, afirmou que não tinha nada a detalhar, porque o projeto estava em fase de concepção, mas deixou a dúvida: se não havia sequer um rumo, porque anunciar justo no momento da tão aguardada primeira entrevista coletiva de Teich? A economista Elena Landau, que comandou privatizações no governo Fernando Henrique e fazia críticas à condução do programa atual, observou:
Outra economista de escola liberal, Monica de Bolle, que critica o tipo de liberalismo praticado por Guedes e vê lentidão na adoção de medidas para combater o impacto econômico do coronavírus, não conseguiu identificar troca de estratégia defensável:
A demora na adoção de ações compensatórias, tanto para empresas quanto para os "mais vulneráveis", como apontou o próprio Guedes, estariam na origem da virada de mesa do Planalto na área econômica. Ao menos, os planos do ministro da Economia tinham clareza na fonte e no destino dos recursos. O Pró-Brasil terá de ser melhor explicado.