O Ministério da Economia filtrou a informação de que Paulo Guedes "não vai fazer esforço" para aprovar a indicação do ex-ministro Abraham Weintraub para a diretoria-executiva do Banco Mundial.
Caso se confirme, Guedes fará um favor ao Brasil. Já seria contraditória a indicação de Weintraub, um militante contra o que chama de "globalismo" – na definição do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, "a globalização econômica que passou a ser pilotada pelo marxismo cultural". O currículo, as circunstâncias da viagem e o vaivém da data de exoneração do ex-ministro adicionam estranhamento ao quadro.
O Banco Mundial foi fundado em 1944 para rearranjar a economia depois da Segunda Guerra Mundial. Foi o resultado, com o Fundo Monetário Internacional (FMI), do chamado Acordo de Bretton Woods, que definiu as bases da ordem monetária internacional. Com o passar dos anos, em relação ao países em desenvolvimento, o FMI ficou no papel de bandido porque socorria em troca de exigências muito estritas de ajuste fiscal, e o Banco Mundia fez o mocinho, financiando e combatendo a desigualdade.
Como diretor-executivo da instituição, Weintraub teria de se preocupar não só com "povos indígenas" expressão que disse "odiar" na famosa reunião ministerial de 22 de abril, mas com várias outras minorias, todas prioritárias ao Banco Mundial. Se soltasse impropério semelhante em uma reunião do Banco Mundial, seria chamado a se explicar – no mínimo.
Além de não ter perfil para o cargo, Weintraub é alvo de questionamentos internos, por meio de um abaixo-assinado que uniu de Chico Buarque a Rubens Ricupero, e externos, porque alguns dos países que o Brasil representa ao indicar seu candidato já mostraram restrições.
A pantomima da data de exoneração, definida para que pudesse entrar no Estados Unidos como ministro e, assim, driblar a necessidade de ficar em isolamento por 14 dias, é constrangedora para o Brasil. Tanto que, nesta terça-feira (23), o Planalto achou necessário corrigir a data.
Não por acaso, ocorre no mesmo dia em que a imagem já muito desgastada do país com maior área de Floresta Amazônica voltou a produzir reflexos: fundos de investimento com recursos ao redor de US$ 3,75 trilhões (cerca de R$ 20 trilhões) cobraram freio ao desmatamento na Amazônia. Como a coluna não cansa de lembrar, cuidado ambiental não é "globalismo", como pensam Weintraub e Araújo. Está na essência do capitalismo contemporâneo.
Os fundos que cobram mudança de posição do governo brasileiro não são formados por ONGs ou por estudantes que promovem "balbúrdia". São os donos do dinheiro grosso no mercado internacional. Aqueles que podem ajudar o Brasil a sair com menores danos do pandemônio na pandemia. Melhor prestar atenção ao que dizem e cuidar melhor da imagem. Guedes sabe.