BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O ministro Paulo Guedes (Economia) espera resistência ao nome de Abraham Weintraub para o posto de diretor-executivo do Banco Mundial. Caso haja um veto, o Brasil terá de fazer outra indicação para a vaga.
Guedes já disse a interlocutores que, em caso de entraves, entregará um novo nome sem fazer esforços para defender Weintraub. O Palácio do Planalto, no entanto, insiste na manutenção ex-ministro da Educação no cargo.
Guedes disse para auxiliares que existe a chance de veto e que, neste caso, o país teria de indicar outro nome.
Ex-ministro da Educação, Weintraub nem assumiu o posto, mas já está nos EUA desde sábado (20).
O Brasil integra o Banco Mundial por meio de um consórcio com outros oito países. São eles Colômbia, República Dominicana, Equador, Haiti, Panamá, Filipinas, Suriname e Trinidad e Tobago.
Em conversas preliminares, Colômbia, Equador e Suriname se mostraram mais refratários ao nome de Weintraub, segundo assessores de Guedes.
A República Dominicana também não mostra simpatia pela indicação. No entanto, o país se mostrou aberto à negociação.
Na avaliação de integrantes do governo, caso a indicação de Weintraub seja rejeitada, poderá ser criado um problema diplomático sério.
Diplomatas ouvidos pela reportagem afirmam que sempre houve consenso. Porém, reconhecem que, desta vez, o nome se tornou alvo de questionamentos, mas dizem acreditar que haverá consenso ao final.
Com sede em Washington, a missão do Banco Mundial é desenvolver e financiar projetos que permitam erradicar a pobreza. Basicamente atua com dois braços, o Bird (Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento) e a AID (Associação Internacional de Desenvolvimento).
Pelas regras, a indicação do diretor-executivo de um grupo desse tipo precisa ser consensual porque ele representará todos os países do consórcio. Caso contrário, é preciso indicar outra pessoa.
A fama do ex-ministro da Educação é a principal barreira. Weintraub é visto como um profissional de carreira errática e uma pessoa confusa e preconceituosa.
Formado em economia pela USP, ele trabalhou no mercado financeiro no banco Votorantim, ensaiou um negócio malsucedido e tornou-se professor até abraçar a campanha de Bolsonaro, em 2018.
Na semana passada, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), ironizou a ida de Weintraub para o Banco Mundial. "Não sabem que ele trabalhou no banco Votorantim, que quebrou em 2009", disse.
Integrantes da equipe econômica prefeririam outro nome para a vaga no Banco Mundial. No entanto, Guedes ajudou na articulação como forma de apresentar a Bolsonaro uma saída para uma crise política.
O ex-ministro da Educação viajou ao EUA ainda ocupando o cargo. Há dúvidas a respeito do uso de passaporte diplomático e de qual visto foi apresentado ao setor de imigração americano.
A gestão Bolsonaro não informa se houve autorização para a viagem.
De acordo com a legislação brasileira, funcionários da administração pública devem pedir autorização ou, no mínimo - em casos de férias, por exemplo -, informar superiores da viagem ao exterior.
Quando se tratar de uma missão oficial, a autorização deverá ser publicada no DOU, de acordo com o decreto 1.387, de 1995 --que trata de afastamento de servidores quando há ônus ou ônus limitado aos cofres públicos.
A Secretaria de Comunicação da Presidência foi questionada sobre a existência ou não de autorização ou mesmo de uma comunicação oficial feita por Weintraub. Em nota, informou que não iria comentar o assunto.
O MEC, por sua vez, afirmou que o pedido de demissão do então ministro havia sido entregue ao presidente Bolsonaro antes da viagem. "Os custos da viagem não foram pagos pela pasta."
Nesta segunda-feira (22), o deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP) protocolou um requerimento com pedido de esclarecimentos ao MEC a respeito da viagem do ex-ministro. O requerimento também indaga qual missão Weintraub foi cumprir nos EUA e se o ministério financiou passagem e diárias.
O Ministério da Economia não quis comentar o assunto.