Dia após dia — esta segunda-feira (18), quando recua quase 2%, será uma exceção —, a cotação do dólar em reais vem batendo recordes nominais. Isso significa que o valor é o maior alto, sem considerar a atualização pela inflação da relação entre as moedas. Nesse parâmetro, a marca ainda não batida segue sendo a registrada em outubro de 2002, há quase duas décadas. Ao atingir R$ 3,99 no dia 10 daquele mês de eleição presidencial, o câmbio embutia a inquietação com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva para a Presidência.
No início da tarde desta segunda-feira em que o mercado internacional despertou o apetite perdido pelo risco, o dólar cede 2%, para R$ 5,7211. Mesmo assim, é o mais perto que chegou do valor atualizado da cotação de R$ 3,99 registrada em 2002. Há duas formas de fazer esse cálculo. Uma é simplesmente corrigir o valor da época pela inflação brasileira, o que equivaleria hoje a R$ 10,50. No entanto, economistas consideram mais preciso descontar dessa conta também a inflação americana do período. Nesse caso, a marca a ser batida desce para R$ 7,40.
O mais perto em que a cotação atualizada esteve desse valor foi em setembro de 2015, em plena discussão sobre a abertura do impeachment da então presidente Dilma Rousseff, que acabou ocorrendo três meses depois. Nesse período, o valor corrigido do dólar tocou R$ 4,38. O que esses três períodos — a eleição de Lula, o impeachment de Dilma e o Brasil sob Bolsonaro — têm em comum é uma intensa crise política. Nos dois primeiros casos, involuntária. No terceiro, alimentada com disposição.
A economia deprimida impede o repasse dessa alta para a inflação em vários produtos, mas já começam a surgir sinais do impacto do câmbio, como em equipamentos eletroeletrônicos, por exemplo. Outro efeito é elevar o endividamento de empresas que recorreram ao mercado externo para se financiar. O impacto cambial foi um dos mais comentados na temporada de balanços do primeiro trimestre.
Por outro lado, o endividamento público brasileiro, diferentemente do que foi no passado, agora é muito pouco impactado pela severa desvalorização do real. A dívida está maciçamente contratada em moeda nacional. Além disso, como o Banco Central (BC) tem altas reservas internacionais, em dólares, obteve um ganho fiscal de R$ 598 bilhões.