Antes do anúncio da saída do ministro da Saúde, Nelson Teich, o dólar era cotado pela primeira vez desde 8 de maio abaixo de R$ 5,80. A bolsa operava em ligeira alta, tentando recuperar o nível dos 80 mil pontos. Assim que a informação chegou e foi assimilada, ambos mudaram de rumo: o dólar voltou para o patamar de R$ 5,80, e a bolsa cai 1,4% no final da manhã. Além da segunda troca no comando do ministério em menos de um mês, há incerteza sobre o futuro da economia com o risco de mudança drástica na estratégia de combate à pandemia.
Apesar dos sinais recentes de desgaste de Teich, analistas e operadores foram pegos de surpresa. André Perfeito, economista-chefe da corretora Necton, mencionou "movimento inesperado" e observou que "a perspectiva de que estamos entrando na fase mais aguda da pandemia sem um comando claro na saúde sinaliza maiores ruídos políticos". No médio prazo, projeta o analista, o dólar deve atingir a cotação de R$ 6,30 no médio prazo.
Neste momento, cresce entre analistas, investidores e especuladores do mercado financeiro, empresários e economistas ortodoxos a percepção de que a crise política protagonizada pelo presidente Jair Bolsonaro aprofunda as dificuldades da economia decorrentes da pandemia e de sua mais reconhecida forma de prevenção, o isolamento social. Na semana passada, o presidente da associação das montadoras, a Anfavea, Luiz Carlos Moraes, afirmou que parte da desvalorização do real decorre dos sucessivos conflitos abertos pelo presidente.
Nesta, um relatório assinado por Armando Castelar, coordenador de pesquisa do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas, tem como título "Brazil's Burning House" (algo como a Casa em Chamas do Brasil). No texto, Castelar afirma que "no momento, é melhor deixar o Brasil para especialistas, malucos, oportunistas de longo prazo e aqueles sem outras opções". Entre os motivos, afirma que "investidores estão horrorizados com os custos econômicos de tal confusão, como mostra a saída de capital e a moeda em queda".