Ao anunciar, nesta sexta-feira (8), "a maior queda da história" na produção do setor, de 99,4% em abril em relação a março, o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Carlos Moraes, fez um desabafo:
– Parte da instabilidade do câmbio é causada por instabilidade política, que piora ainda mais a situação. Todo dia tem uma crise, na saúde, na cultura, com o Legislativo, com o Judiciário. É isso de manhã, de tarde. Queria dizer que parte dessa desvalorização exagerada não é econômica, é política, é resultado da instabilidade. Há agentes políticos que, infelizmente, estão prejudicando ainda mais a economia. Temos políticos que não perceberam, ainda, a gravidade da situação. Parte da crise poderia ser evitada se houvesse uma ação coordenada.
A declaração não foi provocada por pergunta, surgiu espontaneamente quando o executivo comentava as perspectivas econômicas do Brasil durante a crise. Moraes observou que as montadoras optaram por paralisar as atividades em abril e, agora, estão preparadas para a retomada, "desde que possamos garantir para os empregados a saúde deles e das famílias deles". Como a Anfavea está representada na Coalizão Industrial, grupo que acompanhou Jair Bolsonaro na marcha improvisada ao Supremo Tribunal Federal (STF) no dia anterior, Moraes foi perguntado se apoia a visão do presidente. Acautelou-se:
– Não se pode subdimensionar a crise da saúde. Cuidar da população, para nós, é prioridade. Não vamos fazer discurso político, estamos fazendo isso na prática.
O presidente da Anfavea afirmou que o setor está usando todas as ferramentas para manter os 125 mil empregos no setor, mas não quis se comprometer com a preservação de todas as vagas depois do período de vigência da MP 936, que permite suspensão de contratos e redução de jornada e de salários.
– Esforço haverá, mas não podemos garantir, se não houver possibilidade de prorrogação das medidas da MP 936. Sabemos que isso tem um custo, mas vai se gastar de outra forma, como seguro desemprego e outras consequência para a sociedade.
Moraes ainda criticou os bancos que, segundo ele, "tiraram o time de campo" assim que a crise se instalou. Relatou que os bancos das montadoras elevaram de 46 para 60 financiamentos a cada cem contratados nesse período.
– Temos três ou quatro bancos com 80% do volume de negócios, e essa concentração não é boa para o país.
Antes de encerrar, o executivo, ligado à montadora alemã Mercedes-Benz, fez questão de voltar a falar na necessidade de coordenação. Citou a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, que se reuniu com a indústria para discutir formas de recuperação que incluem até estímulos ao consumidor para que o volume normal de vendas seja retomado o mais rapidamente possível.
– O tamanho da crise vai depender da coordenação do governo.