Até os empresários convidados para uma reunião com o presidente Jair Bolsonaro nesta quinta-feira (7) foram surpreendidos pelo improviso da visita ao presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli. Na saída, a marcha acabou virando também um ato de reforço ao ministro da Economia, Paulo Guedes, que havia manifestado desconforto público com uma decisão do presidente.
— Sigo a cartilha do Guedes na economia, se ele disse que devo vetar, vou vetar — afirmou o presidente, indagado se seguiria o conselho do ministro também anunciado diante das câmeras que acompanhavam a "visita".
Guedes quer que o presidente vete exceções ao congelamento de salários de funcionários estaduais em contrapartida à ajuda total de R$ 60 bilhões. Como a manifestação foi pública, haviam voltado os temores sobre a duração da permanência no cargo.
O encontro presencial havia sido marcado há exatamente oito dias, durante uma teleconferência. Mas a marcha ao STF foi definida na hora, relatou à coluna José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), que acompanhava a conversa de casa e percebeu que assessores sugeriram a iniciativa ao presidente.
— Como era limitado a 10 pessoas e éramos 15, avisei que, por ser do grupo de risco, ficaria em casa. Mas teve gente que tirou no palitinho — relatou Castro à coluna.
Segundo Castro, um dos motivos que provocaram a reunião é o temor de uma "invasão chinesa" na economia brasileira. Há relatos de que empresas chinesas, ao retomar a produção, estão dando descontos de até 70% em máquinas e insumos.
— Estamos preocupados porque, enquanto estamos aqui na UTI, a China está operando livre no mercado. O medo é de que a China engula o Brasil, que não demanda e não produz. Queremos discutir como abrir, com segurança, alguns segmentos — disse Castro.
Pelo relato de Castro, não estava planejada a manifestação de pressão dos empresários sobre o STF. Apesar da preocupação generalizada com a economia, o momento em que a visita foi feita é delicado. Há setores no empresariado que defendem que a retomada só ocorra quando for totalmente segura.
Na véspera, entram em vigor as primeiras medidas de lockdown (bloqueio obrigatório) no país e até o novo ministro da Saúde, Nelson Teich, reconheceu que será possível adotar esse medida em outros locais. É preciso planejar a retomada, mas não é uma marcha ao STF que vai resolver os problemas do Brasil para avançar a essa etapa.