Um dia depois que o Banco Central (BC) anunciou aumento de 28,3% na concessão de crédito com recursos livres em março, o presidente do Bradesco, Octavio de Lazari Júnior, admitiu que as taxas cobradas dos clientes podem ter ficado maiores. Durante apresentação dos resultados do banco no primeiro trimestre, Lazari afirmou:
– Ainda não temos certeza do que vai acontecer pela frente, nem de quando isso vai terminar ou como vai ser o futuro, e a demanda de recursos novos passará por um crivo acentuado e pode ter juros e spreads um pouco maiores. Spread é a diferença entre o que os bancos pagam para captar o dinheiro dos clientes e o que cobram para emprestar recurso.
O principal motivo do que chamou de "taxas pressionadas", o presidente do Bradesco apontou o “maior risco que o ambiente apresenta”. A coluna havia apontado essa tendência no final de março, justo quando o governo federal anunciou a linha para financiar folha de pagamento com taxa anual igual à Selic, de 3,75%. No entanto, a Federação Brasileira das Associações de Bancos (Febraban) assegurou, dias depois, que os juros cobrados nos empréstimos haviam se mantido estáveis.
Em 9 de abril, a Associação Nacional de Executivos de Finanças Administração e Contabilidade (Anefac) divulgou sua pesquisa mensal sobre taxas de mercado e detectou alta de 3,25% – quase uma Selic anual.
No levantamento do BC, outro dado chamou atenção: considerado o crédito total, não só o com recursos livres, da alta de 2,9% em março, 88% foi absorvido por grandes empresas. Entre as explicações, está o fato de que esses companhias são mais bem informadas e tem canais já abertos com as instituições financeiras.
O crédito é um remédio poderoso para o contágio do coronavírus na economia. Como é da natureza da crise que seja temporária, o financiamento pode ser a ponte para o outro lado do ciclo. No entanto, precisa ser bem distribuído e, na medida do possível, acessível. Caso contrário, não cumprirá seu papel.