Entre os 10 empresários que acompanharam o presidente Jair Bolsonaro ao Superior Tribunal Federal (STF) nesta quinta-feira (7), estava Haroldo Ferreira, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Calçados (Abicalçados). No final da tarde, relatou à coluna o que ocorreu na Praça dos Três Poderes, assegurou que a intenção não era pressionar o Supremo e afirma que o pedido de abertura do comércio se restringe a cidades em que o contágio da covid-19 está controlado.
Como surgiu a reunião com o STF?
Tem muita especulação sobre o que aconteceu. Era um encontro da Coalizão Indústria, formado por 14 associações do setor industrial, que existe antes do governo Bolsonaro. Tínhamos encontro com o ministro Paulo Guedes (da Economia) a cada três meses, que passaram a ser a cada dois, e agora é todo mês. A ideia é relatar onde aperta o sapato da indústria.
Qual era a pauta?
Na semana passada, tivemos uma reunião com o ministro Braga Netto (da Casa Civil) e ele sugeriu que fizéssemos um relato da situação ao presidente. Levamos quatro itens a ele. Um é a alta ociosidade da indústria, na média a 60% e na calçadista 70%. O segundo foi mostrar tudo o que esses setores já fizeram para ajudar no combate à covid-19, da fabricação de máscaras a doações. O terceiro foi discutir a retomada da atividade do setor produtivo e vulnerabilidade que o setor tem frente à China. No setor calçadista, a importação aumentou em 56% em valor e 37,5% em quantidade. Por fim, falamos do custo Brasil, que chegou a R$ 1,5 trilhão e tem de ser resolvido.
E como surgiu a possibilidade de ir ao STF?
O presidente perguntou se teríamos alguma objeção a relatar também ao presidente do STF o que havíamos relatado a ele. Ele fez isso quando falávamos no terceiro item da pauta. Estávamos falando na retomada do comércio, e ele disse que o governo federal não tem poder para isso por uma decisão tomada pelo STF, que deu poderes para Estados e municípios. Fomos convidados e todos achamos positivo relatar sobre o mundo real.
Nesse momento de escalada do contágio no país, embora no Estado esteja mais controlado, não é um risco abrir o comércio?
Não se quer abrir sem controle, o que se pede é uma flexibilização, abrir em cidades onde não há problema. A covid-19 está aí. O comércio tem de abrir com responsabilidade. Para isso tem a ciência. A indústria voltou com responsabilidade, com 30% da capacidade. Mas se não começar a vender, vai virar zero. Não houve pressão nem coação, não fomos pressionar ninguém. Fomos dizer a verdade.