Marta Sfredo

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A coluna online é um pouco diferente da GPS da Economia, de Zero Hora, que também assino. Aqui, cabe tudo. No jornal impresso, o foco é em análise dos temas que determinam a economia (juro, inflação, câmbio, PIB), universo empresarial e investimentos.

Impacto do coronavírus 

Não é o emprego dos brasileiros que Bolsonaro defende, é o próprio

Presidente da República renuncia ao papel de gestor da crise e prefere focar nas condições em que pretende disputar a reeleição

Marta Sfredo

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REUTERS / Divulgação
Em mais uma saída no final de semana, Bolsonaro põe em questão estratégia de distanciamento social

Se já não tinha ficado claro, agora o presidente da República deixou cristalino: ao se opor a medidas de isolamento social, não defende os empregos dos brasileiros, mas o próprio cargo. Ou seja, no foco do gestor, não está a gestão da crise, mas as condições nas quais vai disputar a reeleição.

Em rede social, reagindo a uma manchete de jornal baseada no estudo que aponta o risco de o índice de desemprego duplicar no país — em linha com a projeção do Ministério da Economia —, expôs o objeto de sua preocupação. Em um comentário no Twitter, escancarou:

"Esse jornal apoiou ações daqueles que destruíram empregos, e agora quer culpar o Presidente da República das consequências".

Na visão de Bolsonaro, "ações daqueles que destruíram empregos" são as que defendem parada estratégica em atividades não essenciais. Embora a verdadeira preocupação de Bolsonaro fosse visível, ele mesmo nunca havia a exposto de forma tão transparente. Diante da crise mais grave pela qual o Brasil já passou, seu líder renuncia ao papel de administrador racional da situação. Prefere se apresentar como candidato à eleição de 2022. Não é a voz de um presidente, é a de um candidato.

Com essa postura, reforça a imagem internacional de um líder despreparado — na hipótese mais benigna, visto que a revista The Economist o caracterizou como alguém visto, no próprio governo, como um "familiar difícil de lidar e com sinais de insanidade".  Neste momento, a consequência mais dramática é que, além de prejudicar a única estratégia capaz de suavizar o efeito da pandemia na saúde, que é o isolamento social, também mina a resposta para amenizar seu impacto econômico, que são as medidas de apoio do governo, adotadas em todo o mundo em grande volume e alta velocidade. 

O ministro Paulo Guedes, da Economia, já escolheu lado: ainda que mais lento do que seria o recomendado, vem anunciando medidas de compensação capazes de atenuar os efeitos negativos na economia. Mas não há um presidente da República cobrando mais volume e maior velocidade. Na visão de Bolsonaro, o desemprego não será diminuído por iniciativas de apoia a empresas e trabalhadores, mas pelo puro, simples e irresponsável levantamento das restrições. 

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