O jornalista Leonardo Vieceli colabora com a colunista Marta Sfredo, titular deste espaço.
O economista Sérgio Firpo avalia que o governo Jair Bolsonaro demorou para iniciar o combate aos prejuízos do coronavírus. Por outro lado, o professor do Insper elogia parte das ações anunciadas recentemente pelo Planalto, como a permissão para que empresas reduzam jornadas e salários, desde que não demitam funcionários. Abaixo, confira os principais trechos da entrevista à coluna.
Como você define o cenário para a economia brasileira?
O cenário é grave. Podemos esperar uma queda no PIB (Produto Interno Bruto) neste ano. É um momento muito sério, talvez o mais grave que tenhamos vivido. Então, vamos precisar de políticas governamentais que façam frente à gravidade do problema. Tem muita incerteza em relação à pandemia e à capacidade de o país sair do isolamento. Qualquer medida precipitada pode gerar desastre sanitário. Estamos vendo o que está acontecendo no Equador. Acho que não estamos preparados para sair do isolamento agora.
Qual é a sua avaliação sobre as medidas já anunciadas pelo governo federal para reduzir prejuízos?
O governo tem agido de maneira lenta. A crise começou em dezembro na China. A gente não se preparou para isso. Há cerca de 40 milhões de trabalhadores sem carteira assinada no país. Agora, existe plano para lidar com esse grupo, que é o repasse de R$ 600. A questão é que os recursos começaram a sair relativamente tarde.
Tem muita gente, como vendedores ambulantes, que não tem capacidade de poupar. Além disso, não sei se temos fôlego fiscal para mais de três meses com esse benefício. O tamanho do repasse foi decidido de última hora, sem avaliação aparente do rombo que pode ser gerado. Vamos financiar isso com dívida. Agora, o recurso tem de chegar a quem, de fato, perdeu renda.
Como você analisa as ações voltadas ao mercado formal?
A política do governo de financiar parte da redução de salário e jornada com seguro-desemprego parece ser benfeita. Faz sentido estimular as empresas para que não demitam, assim como condicionar crédito àquelas que evitam cortes neste momento. É preciso financiar capital de giro que, efetivamente, chegue até os negócios. Não adianta só destinar recursos aos bancos. Se forem emprestar para uma empresa que não tem demanda, o risco do empréstimo é gigante. É necessário assumir o risco desse pagamento.
Como o governo pode assumir esse risco?
Há ideias para criar fundo que garanta esse tipo de empréstimo. Existem políticas que estão sendo pensadas pelo governo para garantir que o risco seja do próprio governo. Precisamos criar essas garantias para evitar que os recursos fiquem parados e cheguem até o empresário no período em que não houver demanda.
O governo anunciou novos saques do FGTS a partir de junho. A medida pode ajudar a diminuir perdas?
Sobre o FGTS, entra governo e sai governo, mas os caras não sabem muito bem o que fazer com esse dinheiro, que é do trabalhador brasileiro. A indefinição é bastante ruim. Penso que está mais do que na hora de liberar o FGTS. É um recurso de que os trabalhadores mais pobres sentem falta.