Ainda que esta sexta-feira (22) prometa turbulência com a decisão do ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o vídeo supostamente comprometedor de uma reunião ministerial, a semana foi de trégua na crise política. O resultado foi a volta da bolsa de valores ao nível de 80 mil pontos por uma semana quase completa, que não ocorria desde março. O dólar também voltou ao patamar de R$ 5,50, depois de roçar o nível de R$ 6.
Ente segunda e sexta-feira, o risco Brasil medido pela pontuação do Credit Default Swaps (CDS) caiu 13,5% e desceu da altura dos 300 pontos, onde havia se acomodado nas semanas de alta tensão política gerada no Palácio do Planalto. É uma ótima oportunidade pedagógica para o presidente Jair Bolsonaro. Os números deixam mais claro o tamanho do impacto de suas ações nos custos na crise do coronavírus.
Se a retomada da economia é importante — quando possível, de forma gradual e responsável —, a estabilidade e a previsibilidade são essenciais. Um país com indústria e comércio fechados, mas com perspectiva de reabertura com protocolos corretos, é muito mais atrativo do que um em que a descoordenação marca o combate ao contágio do vírus, tanto na saúde quanto na economia. Observar os dados pouparia o presidente de ler relatórios como o publicado pelo coordenador de Economia Aplicada do FGV Ibre, Armando Castelar, que viu um Brasil em chamas, e pelo habitualmente contido economista-chefe do banco BV (antes Votorantim), Roberto Padovani, que escreveu, na semana anterior:
"A despeito de um ambiente global mais favorável, há muito pessimismo com o Brasil. Uma explicação possível para este sentimento é o aumento das incertezas políticas locais, que pode ter como preço uma recessão mais profunda que o necessário."
Estabilidade política, para o mercado financeir e o universo empresarial, é uma espécie de cloroquina que funciona. Demonstrações de liderança responsável completam o tratamento nessa área. A semana que, enfim, Bolsonaro usou o uniforme de bombeiro no Brasil em chamas, em vez de ser o incendiário, precisa deixar lições. Se o vídeo da reunião azedar o humor, nesta sexta-feira, não será por acaso: foi porque o presidente escolheu bater de frente com seu ministro da Justiça, Sergio Moro, sem que houvesse qualquer necessidade de fazê-lo do ponto de vista do interesse público.