No Brasil em que até economistas que sempre defenderam gasto público reconheciam a necessidade de equilibrar as contas públicas, o jogo virou em poucas semanas. O impacto econômico é a segunda maior causa de inquietação depois da imposição de salvar vidas. Diante da pandemia, até os que sempre defenderam cortes nas despesas estatais querem que o governo gaste muito, e logo.
Um deles é José Roberto Afonso, um dos autores da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), mobilizado agora pelo presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para definir as bases do "orçamento de guerra" aprovado em dois turnos pela casa na sexta-feira passada. Em texto enviado à coluna como resposta a várias indagações sobre as causas e, ainda mais, as consequências do esforço, afirma:
"Para salvar as vidas de um país se vai à guerra. No caso brasileiro, a guerra não é apenas contra o coronavírus. É também para salvar vidas com proteção social e produção econômica. Nem sociedade e nem economia voltarão a ser o que eram antes do vírus se espalhar pelo mundo".
Além de todo foco na saúde – ampliar assistência hospitalar, sem limite financeiro para comprar, contratar e investir em kits para testes, leitos, respiradores e outros insumos necessários – Afonso receita atos de defesa da economia que passam por Bolsa Família para os informais, assegurar emprego e atenuar o desemprego, evitar a falência de microempresas, apoiar as grandes e até os bancos.
Mas como está mergulhado no esforço de guerra, sustenta o economista, o Brasil não pode só se defender. Também precisa atacar. Para isso, propõe incentivos para indústrias que reconvertam sua produção para produzir equipamentos hospitalares, ambulâncias UTI para pequenas cidades e construção de hospitais em grandes centros – que podem ter gestão privada, sugere:
"A reconstrução da sociedade e da economia, inevitavelmente, só poderá partir do próprio Estado. Custo é oportunidade no caso brasileiro. Fica a lição de que é inevitável se ter um sistema de saúde pública robusto em qualquer cenário."