O segmento eletroeletrônico é um dos mais afetados pelo impacto econômico do coronavírus na China. A indústria do país asiático ficou parada por muito tempo, e só nesta semana começa a retomar alguma normalidade, mas com ritmo muito abaixo do normal. A segunda maior economia do planeta também é a principal fonte de componentes usados na fabricação dos produtos no Brasil e no mundo. Segundo a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), em 2019 o volume importado da China representou 42% do total. Outros países asiáticos, que também dependem de fornecedores chineses, foram responsáveis por 38% das compras do Exterior. Ou seja, o mercado é "superdependente" de fornecedores chineses, constata o presidente regional da Abinee, Régis Haubert. Para entender a situação atual e de que forma afeta fabricantes e consumidores gaúchos, a coluna conversou com Haubert.
Cenário atual
"Fizemos uma pesquisa no início de fevereiro, e cerca de 52% das indústrias apresentavam algum tipo de problema. Nesta semana, o levantamento prévio apontou que este número subiu para 60%. Estamos monitorando e atualizando a situação a cada três dias. Nesta semana, em torno de 70% dos fornecedores chineses voltaram a operar com capacidade produtiva de 80%. Porém, se levarmos em consideração que a fabricação e a logística levam de 45 a 75 dias, a produção de março, abril e maio já está prejudicada."
Fabricantes locais
"No Estado, o que observamos é que algumas empresas já têm comprometimento de até 20% na produção. E se em março não ocorrer uma recomposição, haverá recorte de algumas linhas de produtos. Uma empresa do segmento de automação industrial, que faz controladores de produção, já apresenta dificuldades de produzir um de seus modelos. O mesmo ocorre com uma empresa que produz modems. Tínhamos expectativa bastante boa para o setor. Estimávamos para este ano 65% de crescimento em relação ao ano passado, depois de cinco anos amargando crise. Agora, com o advento do vírus, que resulta na falta de componentes, essa perspectiva foi afetada. Em São Paulo, algumas fábricas optaram por dar férias coletivas para os funcionários."
Impacto para o consumidor final
"O custo logístico vai aumentar. Para trazer os produtos rapidamente, o transporte aéreo será priorizado. Isso vai ocasionar aumento de preços, mas não descartamos escassez e até indisponibilidade de alguns produtos. O panorama é esse."
Se o contágio piorar
"O problema é que a dependência é tão grande que não tem um plano B. O que as empresas estão procurando fazer é comprar componentes que não são feitos sob encomenda, de fabricantes que tem estoque em países fora da Ásia. Na verdade, é uma bola de neve. Uma lição que estamos aprendendo é sobre a dependência do setor e de que forma podemos gerir isto. O setor não tinha passado por uma experiência semelhante. É algo novo e muito preocupante."
*Colaborou Camila Silva