Gerente de exportações da Calçados Bibi, o gaúcho Maurício Conrado estava com passagens compradas para ir à China no final de fevereiro. Na manhã desta quarta-feira (29), a viagem foi cancelada depois de consultas aos parceiros da marca no país, relatou à coluna a presidente da empresa, Andrea Kohlrausch. A empresária detalha que, há poucos meses, diante dos protestos em Hong Kong, o mesmo tipo de consulta havia sido feita – se existia algum risco em manter uma visita à cidade-Estado –, e a resposta foi inversa: "pode vir".
A inversão no conselho ilustra o quanto a sério os chineses estão levando a ameaça de contágio do coronavírus no país. A Bibi é uma das poucas empresas brasileiras que têm produtos com marca própria expostos e vendidos em lojas físicas na China, em cidades como Pequim, Xangai e Schenzhen. Segundo Andrea, também há vendas em sites locais relacionados ao poderoso Alibaba. Essa posição é resultado de uma estratégia desenvolvida a partir de 2007 para Hong Kong e há cinco anos para a China.
– Essa decisão de hoje é para esperar até ter uma sinalização diferente – diz Andrea, detalhando que a empresa segue muito interessada em desenvolver o enorme potencial do mercado do gigante asiático.
Atualmente, a Bibi exporta para a China 4% do total vendido ao Exterior e mais 4% para Hong Kong. A coincidência dos números entre uma cidade e o terceiro maior país do mundo em área mostra o que ainda é possível explorar, afirma Andrea.
A Marcopolo, que desde 2018 tem fábrica em Changzhou, confirma que a unidade está paralisada até 9 de fevereiro. O retorno está previsto para o dia 10, "caso não surjam problemas em decorrência do coronavírus", ressalva a empresa. A planta trabalhou de forma antecipada aos sábados para prolongar a parada do feriado do Ano Novo chinês. A produção local, que não tem funcionários brasileiros, é focada em exportação – atende Mianmar, Hong Kong e Austrália.
Outra indústria gaúcha com braço na China é a Fras-le, parte da Empresas Randon. Localizada em Pinghu, na China, também está com feriado estendido até 10 de fevereiro, conforme orientação do governo chinês. Conforme a empresa, até o início da parada, na semana passada, nenhum dos 130 funcionários da unidade apresentava sintomas que os colocassem em suspeita de contágio pelo coronavírus. Do total, quatro são brasileiros. Antes de sair para a folga, todos receberam máscaras e esclarecimentos sobre os cuidados necessários para evitar contágio.
Na retomada das atividades, a empresa está organizada para verificar temperatura e outros sintomas, com o apoio do governo local. Não há previsão de viagens de profissionais da unidade para o Brasil, nem do Brasil para a China. A orientação das Empresas Randon é que não se faça nenhuma viagem entre os países até que a situação se estabilize. Não é possível, neste momento, estimar impactos de produção.
Outra grande empresa da Serra, a Tramontina tem um escritório em Hangzhou para desenvolvimento de fornecedores de complementos de produtos (alças, puxadores). Até o momento, informa a empresa, não houve impacto relacionado ao coronavírus. A Lugano, que produz chocolate artesanal, teve uma loja em Schenzhen por cerca de um ano, a partir de novembro de 2017. Conforme Augusto Schwingel, CEO da Lugano e da GoWinz, o objetivo era expandir e crescer na região, mas por "questão estratégica", a loja precisou ser fechada. Atualmente, o crescimento no Exterior da marca está focado em Estados Unidos, Colômbia e República Dominicana.