Aos poucos, casos como o de Andrea Kohlrausch deixam de ser exceção no Estado. Filha de Marlin Kohlrausch, emblemático comandante da Calçados Bibi, referência em calçados infantis,
vai assumir a presidência na próxima quinta-feira (25), data dos 70 anos da empresa. Tanto em empresas familiares como um todo quanto no setor calçadista, que aos poucos se abre, ainda é uma raridade. Atual responsável pela área de varejo e expansão de franquias da rede, Andrea chega ao comando dos negócios depois de um processo de sucessão que começou há sete anos, quando os herdeiros da terceira geração passaram a ser preparados. Com cerca de 20 anos de empresa, Andrea tem MBA em Gestão Empresarial pela Fundação Dom Cabral, especialização
em Liderança pela FDC/Kellogg School of Management (EUA) e foi responsável pela implantação da área comercial interna de exportação, expandindo vendas para além da América Latina. Também liderou a estruturação da franquia, em 2010. Marlin passa a atuar como presidente
do conselho consultivo da Bibi, que produz cerca de 2 milhões de pares ao ano.
Como foi esse longo processo de sucessão?
Começou há sete anos, quando ele (o pai, Marlin) nos provocou. Sempre diz que as pessoas vão morrer, mas as empresas, não necessariamente. Ele foi o grande incentivador de todo esse movimento de começar a construir uma governança na empresa, movimentou os acionistas, um conselho de família, um consultivo de administração. E convidou algumas pessoas da empresa que tinham potencial para desenvolver. Foram apresentados os desafios da empresa e cada um vez seu plano de desenvolvimento individual. Passamos por diversas capacitações. Eu mesma, lá atrás, quando tudo começou, tinha só uma filha e disse que, se fosse algo para logo em seguida, não tinha interesse, porque tinha sonho de ter mais um filho – hoje, tenho outro, dois anos. Então me passaram que era algo para mais adiante e demonstrei interesse. No final, quem selecionou foi o conselho de administração. Todos que participamos do processo decidimos que iríamos trabalhar unidos, independentemente de quem fosse selecionado. Inclusive, estamos fazendo uma mesa conjunta da diretoria, para trabalharmos dessa forma.
Avalia que está 100% preparada?
A princípio está sendo tranquilo, mas, como brinco, a gente só aprende ser mãe ou pai sendo. Quando fui escolhida como presidente, em novembro, fui bem recebida. Mas vamos sentir agora, na prática, como serão os desafios do dia a dia. Sempre priorizamos valores na empresa, buscamos sucessão interna até para haver continuidade nessa questão.
Vamos expandir a franquia lá fora. Hoje temos quatro lojas: três no Peru, em Lima, e uma na Bolívia, em Santa Cruz de la Sierra. Até o final do ano, queremos ter 10 lojas no Exterior.
Vai buscar a expansão da empresa?
Hoje buscamos trabalhar com diferentes canais, seja multimarcas ou nossos próprios modelos de negócio. Estamos expandindo a franquia lá fora. Hoje temos quatro lojas. Três são no Peru, em Lima, e uma na Bolívia, em Santa Cruz de la Sierra. Até o final do ano, queremos ter 10 lojas no Exterior. O mercado que queremos explorar é o da América Latina. O Peru acabou sendo o mercado mais forte porque já tínhamos distribuidores lá em multimarcas com perfil de varejo, e quiseram ser franqueados. Exportamos para mais de 60 países. No país, estamos em cerca de 60 cidades, com cem lojas em 23 Estados e e-commerce.
Que marca pretende dar a sua gestão?
Meu pai foi um grande visionário, dedicado e certamente vai nos apoiar. Ele conseguiu fazer leituras certas em momentos importantes. Hoje se vê o movimento de muitas indústrias de calçados querendo abrir lojas. Fomos os pioneiros nessa estratégia. Meu desafio também será fazer leituras certas, para continuarmos sendo pioneiros e antecipando o futuro da forma que ele (Marlin) conseguiu fazer. Acredito que meu movimento será por meio da inovação, de buscar a integração de canais para chegar melhor na ponta, no cliente.
O e-commerce, se considerar como se fosse uma unidade de loja Bibi, foi o que mais vendeu, mas ainda não representa fatia grande do negócio. Estamos bem integrados com o físico, com possibilidade de comprar online e retirar na loja, trabalhamos com o conceito de "prateleira infinita" (todos os pontos de venda têm acesso ao estoque total).
Meu pai assumiu a presidência na passagem da primeira para a segunda geração, em um momento de muita crise, no final da década de 1980, momento bem complexo e sério. Sempre se teve um planejamento. Agora, a inovação ajudou muito.
A crise passou, já é possível pensar em investir?
Durante o período, buscamos alternativas no mercado. Estamos fazendo a transição com uma empresa bem saudável, o desafio é dar continuidade ao que foi construído. Meu pai assumiu a presidência na passagem
da primeira para a segunda geração, em um momento de muita crise, no final da década de 1980, momento bem complexo e sério. Sempre se teve um planejamento. Agora, a inovação ajudou muito. Por exemplo, usávamos um determinado tipo de embalagem e trocamos por outra, com maior eficiência. Vamos investir mais nas áreas comerciais, com foco em entender o consumidor, e para melhorias de processo que permitam entregar produtos ainda melhores.
Qual a perspectiva para a economia neste ano?
Começamos o ano com bastante esperança, no sentido de que ocorram as reformas. Começando pela da Previdência, mas espero também que haja estímulo maior ao empreendedorismo, com menos burocracia e ambiente melhor para empreender no país.
É isso que vai gerar mais investimentos, empregos e renda. O ano passado foi de muitas incertezas, com as eleições. A proposta que ganhou prometeu uma série de reformas,
espero que isso ocorra. Também esperamos ambiente mais seguro e ético.