Abatidas pela crise, 17 empreiteiras gaúchas entraram em recuperação judicial, indica levantamento do Sindicato das Indústrias de Construção de Estradas, Pavimentação e Obras de Terraplenagem no Estado (Sicepot). A última, na semana passada, foi a Toniolo, Busnello, a maior do Rio Grande do Sul. Com baixa demanda, as empresas baixaram seus preços para aquém dos custos, em um atitude desesperada, explica o presidente da entidade, Ricardo Portella Nunes.
Por que várias empreiteiras acabaram em recuperação judicial?
Passamos um período muito longo de baixíssimo investimento. E também uma época de grande demora de pagamento pelo setor público: municípios, Estados e União. No final do governo Dilma Rousseff, o atraso foi grande, pegou muitas empresas com dificuldades financeiras enormes e crescentes. Isso levou a um grande número de pedidos de recuperação judicial. Foram 16. Agora 17, com a Toniolo, Busnello. Das principais, foram praticamente todas, com raras exceções.
Há inadimplência de clientes privados? Ou colocaram o pé no freio?
Tivemos três problemas com clientes privados. Houve inadimplência. Alguns grupos que contratam empresas de obras de infraestrutura também entraram em recuperação judicial. É um caso bem presente na Toniolo, Busnello. Há outra dificuldade. Com a baixa procura por serviços e obras de engenharia no setor público e na infraestrutura como um todo, há tendência de as empresas baixarem os preços. Já trabalham com margens apertadas. Leva a prejuízos. O terceiro ponto é que, enquanto o país continuar sem equilíbrio fiscal, sem reforma da Previdência e outras importantes, haverá baixíssima capacidade de investimentos públicos. O serviço que aparece as empresas jogam com preços mais baixos possível para tentar sobreviver. É uma atitude meio suicida.
Qual foi o impacto no emprego?
Tínhamos 25 mil empregados diretos em 2010, que geram mais cinco indiretos cada. Hoje, no máximo 5 mil diretos.
O pior já passou?
Se passar a reforma da Previdência, teremos investimentos pesados em infraestrutura pelo setor privado, principalmente, e depois pelo público. Acredito que vai passar. Mas de que tamanho? Se for profunda, vai ser maior o crescimento do Brasil. Se for pequena, teremos baixo investimento e vamos andar de lado novamente. Temos condições de crescer 4%, 4,5% tranquilamente, desde que investimentos em infraestrutura sejam feitos.
Só a Previdência é suficiente?
As leis trabalhistas podem melhorar. Reforma tributária também é importante. Mas o ponto de partida é o equilíbrio fiscal que o governo vai ter com a Previdência. Há enorme contingente de investidores prontos para aplicar em saneamento básico, em que o Rio Grande do Sul tem péssimos índices, rodovias, também temos poucas duplicadas, navegação, hidrelétricas. O Brasil investe 0,4% do PIB em infraestrutura logística. O mínimo para voltar a crescer seria algo como 2,3%, 2,5%.
Isso (a crise) levou a um grande número de pedidos de recuperação judicial. Foram 16. Agora 17, com a Toniolo, Busnello. Das principais, foram praticamente todas, com raras exceções.
No Estado, o que seria necessário?
O ideal era que se investisse R$ 5 bilhões por ano em infraestrutura logística. Neste ano, se fechar em R$ 1 bilhão, vai ser muito. Melhoraria a eficiência de todos os setores produtivos.
Crises criadas pelo governo, como a intervenção na Petrobras, atrapalham?
Acho que não. Temos de acabar com o monopólio. As refinarias têm de ser vendidas, para ter competição no mercado. Creio que o governo trabalha na linha certa. Há uma mudança de paradigma nas negociações políticas. Isso é novo. Não é assim na maioria dos governos. O próprio governo gaúcho fez coalisão com vários partidos. Não é ruim. Não significa ser desonesto. Bolsonaro quer fazer diferente. Negociar por programa, por obra, com bancadas temáticas. Brasília não está acostumada. As crises são muito “disse-me-disse”.
A Lava-Jato contribuiu para a crise?
Nenhuma gaúcha foi envolvida, mas o setor foi afetado. Grandes grupos enfrentaram dificuldades e isso se refletiu em outros. Mas sou a favor da operação.
As empresas que entraram em recuperação estão conseguindo sair?
Quatro conseguiram. A nossa (Sultepa) está próxima. Boa parte vai sair. Uma ou outra, não. Para isso contamos que o Brasil volte a crescer.
Como é essa experiência?
É dolorosa. Sempre honramos compromissos com clientes, fornecedores e funcionários. E fomos obrigados a buscar essa defesa, que é algo importante. Agora só trabalhamos em obras com rentabilidade e que o cliente paga. Não entramos em licitação com preço baixo.