Não é mais só na China. O medo de contágio pelo novo coronavírus vem provocando uma cascata de cancelamentos de eventos. Em meados de fevereiro, foi o World Mobile Congress (WMC), salão mundial da telefonia móvel de Barcelona. Ontem, foi a vez de nada menos do que o Carnaval de Veneza, e uma série de encontros com grande público em Milão, na Itália, país mais afetado fora da Ásia. Isso dá a medida de como o medo da contaminação e os impactos econômicos se espalham pela Europa.
O que mais preocupa, um mês depois da confirmação do primeiro caso nos Estados Unidos, é o efeito do surto na rede global de suprimentos. Da Apple, a poderosa fabricante de iPhones, a indústrias eletroeletrônicas gaúchas, a dependência de insumos chineses é gigantesca e ameaça a normalidade da produção. Se esse é o mais óbvio calcanhar de aquiles da economia global, muitos outros setores dependem de fornecedores chineses, roupas e até calçados.
Os cálculos das perdas chegaram ao Fundo Monetário Internacional (FMI). No sábado, na reunião ministerial do G20 em Riad, Arábia Saudita, sua diretora-gerente, Kristalina Georgieva, estimou que a epidemia reduzirá o crescimento mundial em 0,1% e limitará o crescimento da China a 5,6% neste ano.
– O vírus afeta a atividade econômica na China e pode colocar em risco a recuperação global – disse a executiva.
Mesmo que vírus seja contido com rapidez, o impacto está dado, afirmou Kristalina. O surto interrompeu a produção na China, e a necessidade de eficiência espalhou a cultura de estoques reduzido há quase duas décadas. O resultado é que há linhas de produção sem todos os componentes necessários para rodar. No comunicado final do G20, houve menção a "aprimorar o monitoramento global de riscos, inclusive o do surto de coronavírus". Mas sem detalhar de que maneira.