Com a carreira marcada por pesadas críticas a intervenções do governo na Petrobras, Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (Cbie), está tão preocupado com as consequências do ataque que resultou na morte do principal líder militar do Irã em Bagdá, no Iraque, que defende "medidas extraordinárias". Caso a cotação do petróleo chegue a US$ 90 por barril – cenário que contempla ou uma guerra de fato ou, o que considera mais provável, o fechamento do Estreito de Ormuz (única ligação entre o Golfo Pérsico e os oceanos, por ponde passa todo o tráfego marítimo de e para os principais países exportadores de petróleo) –, a estatal não deveria repassar toda a alta, sugere Pires.
– Se for a US$ 90, o governo não vai poder passar tudo para o consumidor. Eventos extraordinários exigem políticas extraordinárias. É bem diferente de quando o preço sobe por questões de mercado. Não se sabe o que vai acontecer – argumenta.
Como o petróleo é uma matéria-prima ao mesmo tempo essencial e com preço exposto a enormes variações, pondera o economista, o governo deveria ter criado um fundo de estabilização para quando houvesse problemas. Pires esclarece que não pode ser por meio do atual tributo embutido no preço dos combustíveis no Brasil, a Contribuição de Intervenção sobre Domínio Econômico (Cide), que prevê compartilhamento com Estados e municípios. Também não há condições de criar um novo. Mas sugere que o Brasil já tem um bom instrumento para ajudar a enfrentar momentos como este: os royalties cobrados das empresas que produzem petróleo.
– A Cide não pode ser usada porque foi deturpada pelo PT. Mas com o aumento da produção no Brasil, quando sobe o preço do petróleo, a arrecadação de royalty aumenta. Esse acréscimo poderia ser usado, de alguma forma, para formar um fundo de estabilização. Por um tempo, enquanto durasse o impacto, depois compensaria. Isso deveria ser estudado com calma. Já houve o ataque na Arábia Saudita no ano passado, neste ano esse conflito entre um grande produtor de óleo e a maior economia do mundo. O Brasil deveria se mexer para criar um mecanismo para que esse tipo de evento geopolítico não provoque impactos tão sérios na economia do país – afirma.
Exatamente por defender "medidas extraordinárias", Pires evita especular sobre valores a que poderiam chegar gasolina e diesel.
– Começamos o ano com o pé esquerdo. Não sei o que vai acontecer, será necessário um meio do caminho aí. Temos de um lado o governo iraniano, focado em questões religiosas, ideológicas, e, do outro lado, um cara que não é nada normal. Há dois polos irracionais.
Na avaliação do especialista, a Petrobras não deve repassar os aumentos recentes de forma imediata. Deve agir, opina, como no caso do ataque, também com drone, a instalações petrolíferas sauditas, em setembro passado. Na época, o petróleo subiu e, pouco depois, voltou à normalidade, porque o conserto da base foi rápido. Mas adverte que, desta vez, o cenário é muito pior:
– Começamos 2020 com o pé esquerdo, bolsas estão caindo em todo o mundo. Para o Brasil, que tinha expectativa de um ano melhor, é péssimo.