O general e herói iraniano Qasem Soleimani e o líder paramilitar iraquiano Abu Mehdi al-Muhandis morreram na noite desta quinta-feira (2) em um ataque dos Estados Unidos com foguetes contra o aeroporto de Bagdá. Outras seis pessoas também morreram no bombardeio.
A ação ocorre três dias após manifestantes pró-Irã tentarem invadir a embaixada americana na capital do Iraque.
Segundo o departamento americano de Defesa, a ordem para liquidar Soleimani partiu diretamente de Donald Trump. "Sob as ordens do presidente, o Exército americano adotou medidas defensivas decisivas para proteger o pessoal americano e estrangeiro e matou Qasem Soleimani", informou o Pentágono.
As vítimas estavam em um comboio das Forças de Mobilização Popular (Hashd al Shaabi), uma coalizão de paramilitares majoritariamente pró-Irã e atualmente integrada ao Estado iraquiano. "Três mísseis atingiram o Aeroporto Internacional de Bagdá, próximo ao terminal de carga, e dois explodiram", confirmaram funcionários iraquianos, que pediram para não ser identificados.
O ministro iraniano das Relações Exteriores, Mohammad Javad Zarif, qualificou o ataque de "escalada extremamente perigosa e imprudente" deflagrada por Washington. Já Mohsen Rezai, um antigo chefe dos Guardiões da Revolução, declarou que "Soleimani se uniu a nossos irmãos mártires e nossa vingança sobre a América será terrível".
O general Soleimani, 62 anos, liderava a força Al-Qods dos Guardiões da Revolução, encarregada das operações no Exterior. Era visto como um herói no Irã e exercia um papel-chave nas negociações políticas para formar um governo no Iraque.
Um dos principais personagens do combate às forças jihadistas na região, o general tinha uma atuação fundamental no reforço da influência diplomática de Teerã no Oriente Médio, especialmente no Iraque e na Síria. Al-Muhandis era o número dois da Hashd al Shaabi e seu chefe operacional.
Segundo o Pentágono, Soleimani liderou os ataques às bases da coalizão no Iraque nos últimos meses, inclusive o da sexta-feira passada.
Para Phillip Smyth, especialista americano em grupos xiitas armados, esta "foi a mais importante operação de 'decapitação' já realizada pelos Estados Unidos, superando as mortes de Abu Bakr al-Baghdadi e de Osama Bin Laden", chefes do Estado Islâmico e da Al-Qaeda.
"Para os xiitas do Oriente Médio", o general era uma "mescla de James Bond (espião do cinema), Erwin Rommel (general alemão) e Lady Gaga", escreveu o ex-analista da CIA Kenneth Pollack em um perfil de Soleimani para a revista Time, que o situou entre as 100 personalidades mais influentes de 2017.
Após a divulgação da notícia da morte do general Soleimani, os preços do petróleo subiram mais de 4% nos mercados asiáticos nesta sexta-feira. Sem citar o ataque, o presidente Trump postou a imagem da bandeira dos Estados Unidos em sua conta no Twitter.
Ataque à embaixada americana
Na terça-feira (31), milhares de apoiadores, combatentes e altos comandantes do Hashd al Shaabi protestaram na Zona Verde de Bagdá contra os ataques dos Estados Unidos a grupos paramilitares pró-Irã. Os manifestantes quebraram as janelas e invadiram as instalações de segurança da embaixada americana, sem que as forças iraquianas que protegiam o local reagissem.
Os Guardiões da Revolução, o exército ideológico da República Islâmica, confirmaram que "o glorioso comandante do Islã Haj Qasem Soleimani ao final de uma vida de servidão morreu como mártir em um ataque dos Estados Unidos contra o aeroporto de Bagdá", em nota divulgada na TV estatal em Teerã.
O Iraque tem sido palco, nas últimas semanas, de uma espiral de tensão que ameaça transformar o país em um campo de batalha entre forças apoiadas por Estados Unidos e Irã.
Desde o final de outubro, militares, funcionários terceirizados e diplomatas americanos são alvo de ataques no país.
Washington, que acusa as Forças de Mobilização Popular de estar por trás do ataque à sua embaixada em Bagdá, havia bombardeado no domingo posições do grupo na zona de fronteira com a Síria, matando 25 combatentes.
O ataque americano foi lançado em resposta ao disparo de um foguete que matou um empreiteiro americano na sexta-feira em uma base militar no norte do Iraque, que Washington atribuiu às brigadas do Hezbollah no país.