Os manifestantes iraquianos pró-Irã deixaram nesta quarta-feira (1º) a área em torno da embaixada dos Estados Unidos em Bagdá sob as ordens dos poderosos paramilitares do Hashd al-Shaabi, pondo fim a um episódio de violência que culminou em um ataque sem precedentes à sede diplomática americana.
A escalada verbal entre o Irã e os Estados Unidos, países inimigos, mas com poderes de atuação no Iraque, no entanto, prosseguiu: o presidente Donald Trump ameaçou fazer o Irã pagar um "alto preço" por ter "orquestrado" o ataque à embaixada na terça-feira (31), e os líderes iranianos alertaram que responderão a qualquer ameaça feita a seu país.
Afirmando que "a mensagem" dos manifestantes foi ouvida", a Hachd al-Chaabi, uma coalizão de facções armadas, determinou que seus combatentes e apoiadores levassem sua manifestação para fora da ultrassegura Zona Verde de Bagdá, onde está sediada embaixada Americana.
Imediatamente, os manifestantes desmontaram todas as tendas armadas no dia anterior para uma manifestação que prometiam ser por tempo indeterminado, após a invasão da chancelaria para denunciar os ataques americanos contra as bases da Hashd, que deixou 25 mortos no domingo.
Centenas de manifestantes deixaram suas posições aos gritos de "Nós queimamos".
— Tivemos um grande sucesso: chegamos à embaixada americana quando ninguém havia feito isso antes e agora a bola está no campo do Parlamento — afirmou Ahmed Mohieddine, porta-voz das brigadas do Hezbollah, alvo dos ataques americanos.
Após a violência que evocou o fantasma de dois traumas envolvendo embaixadas nos Estados Unidos - em Teerã em 1979, e em Benghazi na Líbia, em 2012, oficiais pró-iranianos iraquianos estão trabalhando para coletar assinaturas no Parlamento para denunciar o acordo iraquiano-americano, que autoriza a presença de 5.200 soldados americanos em solo iraquiano.
Influência do Al-Shaabi
Integrado às forças regulares após sua luta ao lado do poder contra os jihadistas, Hashd al-Shaabi ganhou influência, pressionado por seu padrinho iraniano, que se aproveitou do Iraque contra o rival americano.
Milhares de seus apoiadores, combatentes e altos comandantes marcharam pela Zona Verde na terça-feira para protestar contra os ataques dos Estados Unidos.
Os manifestantes quebraram as janelas e invadiram as instalações de segurança da embaixada. Em nenhum momento as forças iraquianas que guardavam as entradas da Zona Verde intervieram.
Às portas da embaixada, tentaram parar a violência, mas sem sucesso.
— Perdemos toda a autoridade diante do Hashd — lamentou um membro das forças especiais iraquianas responsáveis pela proteção da Zona Verde.
As forças de segurança da embaixada americana dispararam gás lacrimogêneo para dispersar os manifestantes que conseguiram içar na entrada principal do complexo um enorme cartaz "Direção da Hashd al-Shaabi".
"Você não pode fazer nada ", diz guia supremo
Os ataques americanos foram lançados em resposta ao disparo de um foguete que matou um empreiteiro americano na sexta-feira em uma base militar no norte do Iraque. Washington acusou as brigadas do Hezbollah pelo ataque.
O ataque à embaixada, os ataques americanos e os com foguetes que os precederam, contra instalações que abrigavam americanos, fazem temer que hostilidade iraniana-americana se transforme em conflito aberto no Iraque.
Teerã convocou o encarregado para Assuntos Estrangeiros suíço para protestar contra o "agressor" americano, e o guia supremo Ali Khamenei afirmou dirigindo-se ao presidente Donald Trump: "Você não pode fazer nada. Isso tudo não tem nada a ver com o Irã".
Washington enviou 750 tropas adicionais para o Oriente Médio, para provavelmente depois serem enviadas ao Iraque, segundo uma autoridade americana.
Desde sua saída do Iraque em 2011, após oito anos de ocupação, os Estados Unidos perderam sua influência no país.
As pichações deixadas nas paredes da embaixada americana testemunham: "Não à América" e "Soleimani é meu líder", em referência ao poderoso general iraniano Qassem Soleimani, que já preside as negociações para formar o futuro governo no Iraque.
Este país é abalado desde 1º de outubro por uma revolta popular que conspira contra o poder, acusado de corrupção, mas também com a influência do vizinho iraniano.
As tensões iraniano-americanas parecem ofuscar esse protesto, mas os manifestantes antipoder disseram que estavam determinados a continuar sua mobilização.