Para um presidente que costuma fazer declarações polêmicas, Jair Bolsonaro reservou uma surpresa positiva com o pronunciamento na 55ª reunião de cúpula do Mercosul. Em vez do discurso de ataque, preferiu a conciliação. Especialmente depois de frases inadequadas do filho Eduardo e até do ministro da Economia, Paulo Guedes, Bolsonaro pronunciou duas "frases mágicas" ante os colegas do bloco sul-americano:
– Defesa da democracia é pilar essencial do Mercosul. A solidariedade é dimensão essencial do Mercosul.
Até há muito pouco tempo, seriam declarações óbvias e irrelevantes, sequer registradas. No entanto, ganham novo significado depois da mudança de tom nos discursos presidenciais, mais adequados a comícios políticos do que a um chefe de Estado eleito. O discurso preparado para Bento Gonçalves foi muito diferente do habitual, conforme relatou o repórter Leonardo Vieceli, que acompanha a reunião no local.
É bom lembrar que Bolsonaro havia ameaçado pedir a suspensão da Argentina no Mercosul e encomendado estudos para avaliar o impacto da saída do Brasil do bloco sul-americano. O simples fato de não ter feito novas ameaças desse tipo já é digno de nota. Se é certo que o funcionamento da associação precisa ser revisado e atualizado, não é necessário explodir pontes com parceiros importantes de negócios e de convivência. A reunião de Bento Gonçalves já nasceu esvaziada pela proximidade da mudança de governo de dois dos quatro sócios, Argentina e Uruguai.
Nesta semana, Bolsonaro já havia dado uma mostra de mudança de estilo ao evitar responder perguntas sobre as ameaças do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de retomar cobrança de sobretaxas sobre aço e alumínio – que, no caso do Brasil, estão em vigor.
– Não vou responder antes de falar com o Guedes para não ter de recuar depois – afirmou, com humildade de quem percebeu que o tema é complexo e envolve muitas variáveis.
As polêmicas espalhadas por Bolsonaro já provocaram desgaste na imagem do Brasil lá fora. Não são a única causa da falta de apetite de investidores estrangeiros no país, mas não ajudam a vencer temores e preconceitos. A coluna espera que a mudança de tom não seja restrita a um único discurso.