O jornalista Leonardo Vieceli colabora com a colunista Marta Sfredo, titular deste espaço.
O Brasil sofre com a falta de políticas mais robustas de pesquisa e desenvolvimento de tecnologia, pontua Gianna Sagazio, diretora de inovação da Confederação Nacional da Indústria (CNI). No último dia 4, a economista, com passagem pelo BNDES, recebeu a coluna em São Leopoldo para analisar os desafios que o país enfrenta nessa área. Antes da entrevista, Gianna participou de evento organizado pela CNI, com foco no uso da inteligência artificial na indústria.
Como a indústria gaúcha está inserida no cenário de inovação do país?
O Rio Grande do Sul tem indústria forte, em movimento de modernização para se inserir na quarta revolução do setor. Vejo isso como algo bastante positivo. As instituições como o Senai estão buscando entender o que está acontecendo na fronteira do conhecimento. À medida que a indústria do Estado incorporar práticas disruptivas, vai se tornar cada vez mais competitiva.
O Brasil ainda engatinha no uso da inteligência artificial nos negócios?
O Brasil precisa avançar muito em políticas públicas nessa área. Existem mais de 20 países que têm estratégias nacionais de inteligência artificial. A CNI busca contribuir com o governo para ter políticas de longo prazo para ciência, tecnologia e inovação. A ideia é ter algo específico para inteligência artificial. O país precisa se esforçar para se inserir no cenário internacional. Sem visão de futuro, sistema de financiamento adequado e um marco regulatório, dificilmente conseguiremos acompanhar o que está acontecendo no mundo.
O que é crucial para esse avanço ser confirmado?
A inovação é algo sistêmico. Países mais inovadores são aqueles que avançam simultaneamente em várias áreas. Por exemplo, educação de qualidade é fundamental em todos os níveis. Precisamos de ambiente amigável ao empreendedor, com facilidade para a formação de negócios. O mais importante é o Brasil reconhecer que a área de ciência, tecnologia e inovação deve ser prioridade, e que ela seja tratada como tal. Investimento em inovação não é gasto. É investimento no futuro.
A crise atrapalha a inovação ou pode forçar as empresas a buscarem novas soluções?
A inovação é uma grande oportunidade para o Brasil sair da crise. Nos países mais inovadores, existem investimentos cada vez maiores em pesquisa e desenvolvimento, o que estimula uma performance melhor da economia. Existe correlação entre investir e ter retorno. E as empresas que inovam mais têm valor de mercado mais elevado.
Você trabalhou como assessora sênior da presidência do BNDES. Qual o papel do banco no cenário de inovação?
O BNDES é muito importante para estimular o ambiente de inovação. O nome do BNDES já diz que o banco é de desenvolvimento. É diferente de uma instituição comercial. Banco de desenvolvimento, por conceito, deve estimular a economia com condições que, de fato, alavanquem o investimento privado. Considero o papel do banco relevante para esse estímulo. Não é o que está acontecendo.